Este filme de Kenji Mizoguchi descortina áreas
ainda nebulosas dos primórdios do cinema mundial: Muita coisa do que Mizoguchi
realizou perdeu-se, tornando impossível ter-se uma perspectiva de sua
filmografia. Seu trabalho aqui, lançado em 1953, vinha ao que parece de uma
sucessão de grandes obras, onde um artesão hábil e experiente intercalava um
grande filme à outro. Assim, “Contos da Lua Vaga” sobreviveu como um grande
representante da excelência de Mizoguchi e do cinema japonês.
É fascinante acompanhar as manobras de câmera,
efetivamente modernas, com as quais ele registra os percalços de uma família de
camponeses. São dois irmãos que vivem à duras penas da venda de cerâmica. Um
deles tem uma esposa dedicada, um filho pequeno e ambição de sobra, que já nas
primeiras cenas percebemos ser um elemento que incomoda sua mulher. O outro
vive aos atritos com a esposa, pois sonha em ser um samurai apesar da óbvia
inaptidão para isso. Sob o perigo de uma guerra que ronda o Japão, os dois
deixam suas esposas na aldeia para arriscar a sorte na cidade grande, mas só
encontrarão armadilhas, cujas iscas serão justamente esses sonhos de grandeza.
É notável o emprego da
técnica de Mizoguchi e o modo como ele usa os recursos à mão para criar
distintas atmosferas (algumas até fantasmagóricas) sem no entanto amparar-se em
escolhas óbvias, fazendo com que seu filme transcorra com maestria pela tela
mesclando habilmente mistério, sobrenatural e dramaturgia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário