sábado, 19 de março de 2016

Diabel

Como é coerente na filmografia de Andrzej Zulawski, a insanidade define "Diabel". Ela está lá presente desde o início, quando acompanhamos, já com uma sensação atônita, os passos de um homem misterioso. E que misterioso continuará durante todo o filme. Ele perambula pelos escombros de uma Polônia do ano de 1793, atrás de um determinado soldado a fim de escoltá-lo.
Se no início parece ser uma tarefa específica, as coisas se tornam mais complicadas quando o homem encontra o soldado em questão, Jacó, numa prisão transformada quase em hospício: Uma atmosfera alegórica, com algo de sobrenatural se instala, e o homem misterioso, que aparentava ser o protagonista, vai ficando de lado –mas, não muito –em prol de Jacó, e dos percalços que ele passará.
O modo como Zulawski imprime clima e ritmo ao filme amedronta tamanho é o caos e a loucura que carregam as cenas. E o mais incrível é que isso está absolutamente dentro do contexto no qual ele coloca todos os seus trabalhos: Tudo para Zulawski é um elemento que agrega histeria e, por que não, vida à experiência humana, tão mais real e palpável quando está sujeita a todos os choques de contradição e imoralidade infundidos no mundo.
São muitas as referências ao estado das coisas na sua Polônia natal, e a maioria delas se materializa na forma de recriminações doloridas dirigidas uns aos outros.
Em sua trajetória de volta ao lar, e em constante fuga da loucura e do túmulo, Jacó –acompanhado da providencial e metafórica presença de uma freira –cruza-se com diversos personagens, todos acometidos por surtos de loucura, muitos deles, sem explicação. Ele torna-se uma espécie de sociopata, e começa a matar pessoas, embora nada fique de fato claro na narrativa. E aí, Zulawski parece se aproximar –mas, só um pouco –de Luis Buñuel, e daquele caos pensado, com o qual ele envolvia muitos de seus trabalhos, sobretudo na alucinada fase mexicana.
Como todos os filmes de Zulawski, "Diabel" é um 'tour de fource', um desafio ao expectador, para vislumbrar a arte de um contador de histórias cujas entrelinhas vêem carregadas do propósito que ele parece não ter.

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