quinta-feira, 17 de março de 2016

Volere, Volare

É quase inacreditável a junção de filmes que Maurizio Nichetti logrou em “Volere, Volare”. Que este seja um projeto realizado e concretizado é, portanto, um feito igualmente inacreditável. Não á toa, ele data do final dos anos 1980, onde audácias artísticas passavam despercebidas.
“Volere, Volare” é sobre animação, e a interação dessa animação com atores reais. Ao contrário de “Uma Cilada Para Roger Rabbbit”, porém, o filme de Maurizio Nichetti (co-dirigido por Guido Manulli) não se concentra nos detalhes físicos e táteis dessa interação, até porque os efeitos visuais beiram o risível.
“Volere, Volare” se concentra no sexo! E ele surge malicioso e despudorado, como jamais aconteceria numa produção americana.
Angela (a exoticamente bela e até fascinante Angela Finocchiaro) é uma espécie de assistente social como só o cinema mais louco e surreal é capaz de moldar: Ela presta auxílio aos tipos mais estranhos, como por exemplo, um cozinheiro que cisma em cobri-la nua de chocolate; ou dois irmãos gêmeos que se satisfazem em estarem na casa dela toda manhã, só para poder vê-la caminhar em trajes sumários (ou nem isso) até o banheiro.
O próprio Maurizio Nichetti é, por sua vez, um aplicado e tímido sonoplasta de desenhos animados que, pouco a pouco, começa ele próprio, a se transformar em um desenho (!).
Num ritmo de comédia romântica, o filme caminha equilibrando-se entre os encontros e desencontros dos dois, deixando claro que apesar das situações inusitadas e cartunescas que os cercam (e, por vezes, até os separam) eles são feitos um para o outro.

O quê dá a “Volere, Volare” um sabor todo especial é a maneira até transgressiva com que Nichetti distorce as convenções do romantismo cômico, valendo-se muitas vezes da nudez de Angela Finocchiaro, e de um insistente clima de sugestividade sexual que se contrapõe estranhamente à ingenuidade da trama metalingüística sobre um homem que vira desenho.

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