sexta-feira, 18 de março de 2016

A Casa de Areia e Névoa

O sentimento de posse ou de materialismo parece nortear os personagens durante toda trajetória a que são submetidos em “House Of Sand And Fog”. E esse sentimento materializa-se na composição das cenas, nos meandros das ricas interpretações, vastas em emoções que flutuam no ar, na forma com que o diretor Vadim Perelman expõe a situação como um artifício que nubla a percepção e o bom senso dos personagens.
Não à toa a névoa surge como um dos personagens, a envolver ou desanuviar este ou aquele cenário como um véu invisível que descortina uma coisa para encobrir outra.
É uma das muitas metáforas a que este filme, de considerável carga alegórica, se permite.
Perelmam leva um olhar estrangeiro, inquisitivo, desmistificador ao conceito do sonho americano, como o fizeram muitos diretores não-americanos no passado. É uma visão europeizada sobre elementos tão norte-americanos. É curioso, portanto, que haja uma certa superficialidade no retrato da família de imigrantes sírio-libaneses. Eles são definidos por detalhes de culturas diferentes que aparecem a olhos mais atentos. E Perelman insiste num verniz mainstream (reforçado pela trilha sonora) para um projeto incontornavelmente autoral.
É o elenco, contudo, o grande brilho de “Casa de Areia e Névoa”. Apesar da caracterização hesitante, Ben Kingsley e Shorei Aghdashloo são presenças excelentes. Ele; a um só tempo agressivo e dócil, marido e pai convulsionado pela vontade implacável de dar uma vida confortável a sua família, pouco a pouco consumido pela angústia de ver-se fracassando nesse intento. Ela; a personificação da esposa tradicional do oriente médio, incapaz de livrar-se dos estigmas arraigados. Mesmo sendo imigrante num mundo novo, seu olhar silencioso é o de quem tenta, em vão, entender o que se passa (seja no nível emocional ou regulamentar), afinal os fatos que se desdobram dizem respeito a leis, valores e implicações de um país que lhe é estranho.
Shorei tem pouco tempo em cena, é bem verdade.
Mas, se falta algo nos coadjuvantes, o esmero para fazer uma protagonista completa é concretizado. Jennifer Connelly, recém-saída de “Uma Mente Brilhante”, onde venceu o Oscar de Atriz Coadjuvante em 2001, tem aqui a oportunidade de ampliar suas percepções acerca da capacidade de uma atriz em achar o tom de sua personagem. E a protagonista de “Casa de Areia e Névoa” é desafiadora.
Sou suspeito para julgar, visto que Jennifer Connelly é uma de minhas atrizes prediletas, e sem dúvidas, uma das mulheres mais lindas do planeta. Mas é admirável o fato de que ela busca filmes incomuns, complexos, não raro sombrios, para crescer como intérprete, a despeito das comédias românticas da vida que, se quisesse, ela faria fácil, fácil. Aqui, como em muitos títulos de sua carreira, ela encara uma mulher devastada pela depressão, pelo abandono do marido, pelo retorno iminente ao alcoolismo, e a soma de circunstâncias desfavoráveis que a levaram a tornar-se uma sem-teto. Em suma, em torno de Jennifer Connelly respira uma trama sobre a mais absoluta sensação de desamparo.

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