terça-feira, 26 de abril de 2016

Mulher Objeto

Embora muitas obras nacionais dos anos 1980 pareçam rudimentares aos olhos dos expectadores atuais, é preciso lembrar as dificuldades que existiam (e ainda existem) para se fazer cinema no Brasil. Além das complicações técnicas e orçamentárias de praxe, havia também um certo preconceito da parte do próprio público brasileiro (e esse preconceito, também ele, ainda existe nos dias de hoje).
Tomemos como exemplo “Mulher Objeto” de Silvio de Abreu. Este é um filme que custou até mesmo a ser viabilizado em sua produção, uma vez que Silvio de Abreu estava mais relacionado, à época, às pornochanchadas que infestavam ás salas de cinema do que à um trabalho mais artístico e autoral, como era o que ele pretendia aqui, com elementos tirados das experimentações européias de Antonioni e Bergman, e até mesmo subterfúgios psicanalíticos que remetiam à obras de Hitchcook, mas já chegaremos aí...
Para complicar ainda mais, a estrela escalada como protagonista era a belíssima Helena Ramos o quê contribuía ainda mais para relacionar o filme ao subgênero da pornochanchada.
Até mesmo hoje em dia, esse esforço autoral de Silvio de Abreu acaba injustiçado: Mulher Objeto é constantemente exibido no Canal Brasil como se fosse mais um dos muitos exemplares da leva de filmes maliciosos e vulgares do período.
Em contrapartida, pode-se dizer que é uma relação fácil de ser feita: Não só o rosto (e corpo) de Helena Ramos era visto naquelas produções, e não só Silvio de Abreu era um nome assíduo entre os realizadores daqueles filmes (e somente depois ele ganhou fama como autor de novelas!), como também o filme tem o sexo como tema central e chamariz comercial. A diferença está no modo inteligente e elegante com que as questões sexuais eram abordadas, o que também lembra as obras de Walter Hugo Khouri, um dos grandes diretores nacionais do período, e talvez, de todos os tempos. Não ajuda muito o fato de que muito da sofisticação de seu apelo perdeu-se com o passar do tempo, dando uma atmosfera involuntariamente cômica a muitas passagens, mas o filme ainda destaca-se por uma série de razões, a começar pela beleza e exuberância de sua atriz principal.
É um deleite acompanhar Helena Ramos ao longo do filme, no qual ela nos brinda com inúmeras e generosas cenas de nudez. Ela é uma esposa de classe alta acometida de uma inesperada frigidez, o quê lhe dificulta o relacionamento com o marido (Nuno Leal Maia) que nutre por ela uma grande atração. Embora não consiga sentir prazer no ato sexual em si (a ponto de sofrer crises de pânico), ela tem constantes lampejos de fantasias que envolvem outros homens e até outras mulheres, os quais ela não parece controlar.
Uma psicanalista inicia com ela um tratamento que visa não apenas solucionar esse problema, mas encontrar a causa, que remonta a um trauma de infância.
Ao longo dessa estranha jornada, não faltaram cenas pra lá de sensuais e bastante inventivas protagonizadas por uma Helena Ramos no auge da beleza e da gostosura.

Assim, Silvio de Abreu disfarça espertamente este seu exercício de estilo e de sensualidade como um drama existencial de suspense psicanalítico onde sobram referências mais explícitas à “Os Pássaros”, “Psicose” e “Quando Fala O Coração”.

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