Embora muitas obras nacionais dos anos 1980
pareçam rudimentares aos olhos dos expectadores atuais, é preciso lembrar as
dificuldades que existiam (e ainda existem) para se fazer cinema no Brasil.
Além das complicações técnicas e orçamentárias de praxe, havia também um certo
preconceito da parte do próprio público brasileiro (e esse preconceito, também
ele, ainda existe nos dias de hoje).
Tomemos como exemplo “Mulher Objeto” de Silvio
de Abreu. Este é um filme que custou até mesmo a ser viabilizado em sua
produção, uma vez que Silvio de Abreu estava mais relacionado, à época, às
pornochanchadas que infestavam ás salas de cinema do que à um trabalho mais artístico
e autoral, como era o que ele pretendia aqui, com elementos tirados das
experimentações européias de Antonioni e Bergman, e até mesmo subterfúgios
psicanalíticos que remetiam à obras de Hitchcook, mas já chegaremos aí...
Para complicar ainda mais, a estrela escalada
como protagonista era a belíssima Helena Ramos o quê contribuía ainda mais para
relacionar o filme ao subgênero da pornochanchada.
Até mesmo hoje em dia, esse esforço autoral de
Silvio de Abreu acaba injustiçado: Mulher Objeto é constantemente exibido no
Canal Brasil como se fosse mais um dos muitos exemplares da leva de filmes
maliciosos e vulgares do período.
Em contrapartida, pode-se dizer que é uma
relação fácil de ser feita: Não só o rosto (e corpo) de Helena Ramos era visto
naquelas produções, e não só Silvio de Abreu era um nome assíduo entre os
realizadores daqueles filmes (e somente depois ele ganhou fama como autor de
novelas!), como também o filme tem o sexo como tema central e chamariz
comercial. A diferença está no modo inteligente e elegante com que as questões
sexuais eram abordadas, o que também lembra as obras de Walter Hugo Khouri, um
dos grandes diretores nacionais do período, e talvez, de todos os tempos. Não
ajuda muito o fato de que muito da sofisticação de seu apelo perdeu-se com o
passar do tempo, dando uma atmosfera involuntariamente cômica a muitas
passagens, mas o filme ainda destaca-se por uma série de razões, a começar pela
beleza e exuberância de sua atriz principal.
É um deleite acompanhar Helena Ramos ao longo
do filme, no qual ela nos brinda com inúmeras e generosas cenas de nudez. Ela é
uma esposa de classe alta acometida de uma inesperada frigidez, o quê lhe
dificulta o relacionamento com o marido (Nuno Leal Maia) que nutre por ela uma
grande atração. Embora não consiga sentir prazer no ato sexual em si (a ponto
de sofrer crises de pânico), ela tem constantes lampejos de fantasias que
envolvem outros homens e até outras mulheres, os quais ela não parece
controlar.
Uma psicanalista inicia com ela um tratamento
que visa não apenas solucionar esse problema, mas encontrar a causa, que
remonta a um trauma de infância.
Ao longo dessa estranha jornada, não faltaram
cenas pra lá de sensuais e bastante inventivas protagonizadas por uma Helena
Ramos no auge da beleza e da gostosura.
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