sábado, 30 de abril de 2016

O Anjo Exterminador

A fase mexicana de Buñuel –quando por lá ele exilou-se devido à perseguição ideológica de Franco na Espanha –rendeu alguns de seus filmes mais poderosamente despojados e iconoclastas. Ao lado do pungente “Os Esquecidos”, este “O Anjo Exterminador” é um dos títulos mais lembrados desse período, inclusive, por ser, também ele, bastante pungente e perturbador.
Muitos conhecem a trama sem sequer ter visto o filme: Reunidos numa mansão após um concerto, um grupo de aristocratas parece em princípio desfrutar a vida de classe alta com normalidade, mas aos poucos, uma impressão estranha começa a tomar conta do lugar. Os empregados vão embora, mas os convidados, ainda que façam menção a tentar sair, são incapazes de deixar o recinto da sala e lá permanecem, dias a fio.
A medida que o tempo vai passando (e a necessidade de coisas que estão fora da sala vai se impondo, como água ou comida), o verniz de cortesia comportamental vai se dissipando e eles revelam-se cada vez mais selvagens.
Buñuel contrapõe essa progressão à cenas de sua própria natureza alegórica que estudiosos elaboram infindáveis teorias para tentar elucidar: O urso que surge na cozinha, por exemplo. Há quem diga que uma bruxa lança um feitiço sobre todos eles, mas Buñuel parece claramente querer falar de comportamentos, não raro hipócritas, que determinam ações que não fazem parte das intenções dos realizadores. Talvez, sobre o preconceito. Talvez, sobre a conivência. Talvez, sobre a ilusão de impunidade da burguesia. Talvez, sobre tudo isso.
Não é, definitivamente, por acaso que, no final, os burgueses enfim livres terminam na igreja, onde o estranho e inexplicável efeito volta a se abater, impossibilitando-os de sair do templo.
Uma crítica de mordacidade e implicações intermináveis, revestida de absurdo e de enganosa ausência de lógica, indubitavelmente feita para fazer pensar, assim era Luis Buñuel.

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