A fase mexicana de Buñuel –quando por lá ele
exilou-se devido à perseguição ideológica de Franco na Espanha –rendeu alguns
de seus filmes mais poderosamente despojados e iconoclastas. Ao lado do
pungente “Os Esquecidos”, este “O Anjo Exterminador” é um dos títulos mais
lembrados desse período, inclusive, por ser, também ele, bastante pungente e
perturbador.
Muitos conhecem a trama sem sequer ter visto o
filme: Reunidos numa mansão após um concerto, um grupo de aristocratas parece
em princípio desfrutar a vida de classe alta com normalidade, mas aos poucos,
uma impressão estranha começa a tomar conta do lugar. Os empregados vão embora,
mas os convidados, ainda que façam menção a tentar sair, são incapazes de
deixar o recinto da sala e lá permanecem, dias a fio.
A medida que o tempo vai passando (e a
necessidade de coisas que estão fora da sala vai se impondo, como água ou
comida), o verniz de cortesia comportamental vai se dissipando e eles
revelam-se cada vez mais selvagens.
Buñuel contrapõe essa progressão à cenas de sua
própria natureza alegórica que estudiosos elaboram infindáveis teorias para
tentar elucidar: O urso que surge na cozinha, por exemplo. Há quem diga que uma
bruxa lança um feitiço sobre todos eles, mas Buñuel parece claramente querer
falar de comportamentos, não raro hipócritas, que determinam ações que não
fazem parte das intenções dos realizadores. Talvez, sobre o preconceito.
Talvez, sobre a conivência. Talvez, sobre a ilusão de impunidade da burguesia.
Talvez, sobre tudo isso.
Não é, definitivamente, por acaso que, no
final, os burgueses enfim livres terminam na igreja, onde o estranho e
inexplicável efeito volta a se abater, impossibilitando-os de sair do templo.
Uma crítica de mordacidade
e implicações intermináveis, revestida de absurdo e de enganosa ausência de
lógica, indubitavelmente feita para fazer pensar, assim era Luis Buñuel.
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