Dentre todos os autores revelados na novelle
vague francesa, Louis Malle talvez fosse aquele que tivesse a natureza mais
transgressiva. Não no sentido de ousar na linguagem narrativa como seu colega
Jean Luc Goddard, mas no sentido temático mesmo: Em seus filmes, Malle
acrescentava um viés lúdico e até mesmo romântico a assuntos espinhosos como o
incesto (“O Sopro do Coração”), o suicídio (“Trinta Anos Esta Noite”), a
delatação (“Adeus, Meninos”) e até mesmo a prostituição e a pedofilia (“Menina
Bonita” este já realizado nos EUA). A despeito, contudo, do culto que se formou
em torno desse primeiro trabalho em solo americano, o melhor filme de Malle é
mesmo o magnífico “Atlantic City”.
Com seu talento contundente para levar um olhar
revelador as dramas humanos marginais, ele acompanha a rotina de um velho
bookmaker (o magistral Burt Lancaster), um veterano da vida caótica de Las
Vegas, fascinado e apaixonado platonicamente pela jovem vizinha (Suzan
Sarandon, deliciosa) uma das milhares de funcionárias dos cassinos da cidade
que, como todos almeja uma vida melhor.
A chegada da irmã dela, e de seu jovem marido,
rapaz envolvido com atividades ilícitas, irá criar a situação que levará os
dois protagonistas a se encontrar finalmente, ainda que diante de uma séria
ameaça.
Malle leva esse olhar, esse senso de observação
que ele herdou do prestigiado movimento de cinema francês para esse trama de crime
e morte tão norte-americana, e empresta a ela um charme europeu que jamais um
diretor de Hollywood seria capaz de trazer.
De quebra, ainda coroa seu filme com atuações
de um primor indissolúvel do saudoso veterano Burt Lancaster e de uma ainda
jovem Suzan Sarandon.
Um encontro feliz de
talentos inquestionáveis.
Nenhum comentário:
Postar um comentário