Crianças são cruéis. Em sua inocente convicção,
não existe espaço para remorso ou dúvida. Seus sentimentos sejam os bons, os
ruins ou os atrozes são como a força da natureza, incontornáveis.
Daí haver uma certa razão para o comportamento
do pequeno Thomas que, após perder a mãe, recebe na mansão que pertence à
família, o suntuoso castelo de Beaumanoir (e que na sua concepção LHE
pertence), uma nova governanta e seu filho, Charles, da mesma idade de Thomas.
Paralela à atração que surge entre a mãe de Charles e o pai de Thomas, a
animosidade se estreita mais e mais entre os dois garotos.
Para Thomas, Charles e sua mãe são dois
intrusos e, portanto, uma espécie de continuidade da mesma tragédia que lhe
roubou a própria mãe.
Para Charles, Thomas é um inimigo genuíno e
declarado que irá valer-se de sua condição social e de tudo o mais para
prejudicá-lo. E ele não está errado em temer isso.
Régia Arpin e David Béhar estão soberbos nos
papéis das crianças, mas há que se abrir um breve espaço para as presenças
necessariamente discretas, ainda que extraordinárias, de Jean Rochefort (o
sensacional ator de “O Marido da Cabeleireira”) e da luminosa Dominique Blanc.
O filme de Régis Wargnier segue a um só tempo
lúdico e impiedoso ao acompanhar de perto o antagonismo dos dois garotos, com
uma inevitável inclinação e simpatia para com o lado de Charles. As cenas que
ele obtém a partir dessa premissa são amplas em brilhantismo e em observação,
soando quase como uma espécie de “O Senhor das Moscas” francês (e não foi por
acaso que fiz uma resenha desse filme também, dias atrás).
O final, nebuloso e
carregado de alegoria, me pareceu uma referência ao desfecho de “Os
Incompreendidos” de François Truffaut. A mesma praia. O mesmo take congelado em
uma expressão enigmática.
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