domingo, 15 de maio de 2016

Portal da Carne

“Portal da Carne” é um filme erótico, mas é um filme erótico nos moldes da sempre desigual cultura japonesa. Isto é, trabalha-se o aspecto fetichista em torno de mulheres nuas, amarradas (!) e apanhando (!!).
São duas cenas assim que se seguem brindadas com a beleza fulgurante de Misako Tominaga (a mais linda dentre todas as atrizes do filme) e da protagonista, Yumiko Nogawa.
Contudo, de cenas memoráveis (nos mais diferenciados sentidos e aplicações) o filme de Seijun Susuki não carece. São muitas: A morte da vaca, e subseqüente esquartejamento em clima absolutamente surreal; os momentos particulares de devaneio de cada uma das prostitutas, visualizados cada um em uma cor distinta; as inúmeras cenas justapostas que se fundem para sugerir lembranças, associações e/ou delírio; a cena da sedução do padre norte-americano; e tantos outros momentos mais.
Diretor iconoclasta que é, Susuki capta bem esses valores e códigos e é particularmente feliz ao harmonizá-los com a trama simplória enunciada pelo roteiro.
Seu talento minimiza em cena os muitos percalços enfrentados para a execução do filme, permitindo que restasse ao expectador uma obra envolta em cores quentes (e minuciosas), de uma divertida vulgaridade em contraponto a uma poderosa conscientização que brota das entrelinhas em relação à vã condição humana, explicitada pelas circunstâncias mias que reais em que esses personagens do pós-guerra se viram arremessados.
Não interessa a Seijun Susuki ser um estudioso das crônicas sociais, mas em sua inventiva generosidade, ele dá uma voz inesperada e contundente aos tantos anseios que por ventura brotam daquelas almas perdidas.

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