Tendo realizado um belo trabalho na refilmagem
de “Sexta-Feira Muito Louca” –do qual Jamie Lee Curtis saiu com um merecido
Globo de Ouro de Melhor Atriz em Comédia –o diretor Mark Waters soube dar
prosseguimento à sua esteira de realizações preservando um estilo
descompromissado e o gênero no qual tão bem trabalhou, a comédia.
Assim, “Meninas Malvadas” é novamente uma
comédia com ares adolescentes e novamente traz Lindsay Lohan no elenco –e,
acredite se quiser, ainda mais promissora e cativante do que em sua
colaboração anterior com Waters: Hoje, em vista de todos os transtornos
passados em sua carreira e sua vida pessoal fica até estranho assistir um filme
onde tudo transcorre harmoniosamente e no qual ela vive a garota comportada.
Há também, em “Meninas Malvadas” um elemento
que o torna mais relevante que o filme anterior de Waters: O roteiro esperto,
carregado de minúcias reflexivas, da também atriz Tina Fey.
Ela inspirou-se no livro “Queen Bee And
Wannabees”, que não é de ficção, mas uma obra de estudo e avaliação psicológica
sobre o comportamento adolescente (sobretudo, o feminino) e suas tendências
inconscientes em criar hierarquias às vezes bastante cruéis.
Fascinada com o tom descontraído com o qual o
livro introduz questões de ordem antropológica e as tornava palatáveis, Tina
extraiu do livro uma premissa básica cujo avanço narrativo da trama permitia a
pontuação de todos os tópicos ali abordados –o resultado é um filme adolescente
que, sem despir-se do humor, do romance, e das características que apelam ao
público dessa idade, observa as atitudes dos protagonistas e antagonistas com
um viés inteligente de compreensão.
Lindsay Lohan vive Cady Heron, a típica garota
recém-chegada à nova escola. Mais que isso: Filha de pais exploradores, Cady
foi educada em casa –hábito comum em certos locais dos EUA parodiado num
prólogo divertidíssimo –e sua consequente ida, aos 16 anos, para uma escola
pública representa uma ida à um mundo completamente estranho e diferente.
Lá –instruída por suas primeiras amizades,
Janis (Lizzy Caplan) e Damian (Daniel Franzese) –ela descobre que existem
tribos diversas, os nerds, os desajustados os desportistas, os artistas, as
poderosas, etc.
São as poderosas, de acordo com Janis, que
gozam do privilégio de serem consideradas a elite popular entre os estudantes.
E é entre as poderosas que está o grande desafeto de Janis: A arrogante,
fingida e manipuladora Regina George (Rachel McAdams, ótima) que dela já foi
amiga, antes de difama-la para toda a escola.
E é exatamente aí, no frescor que permite à
Cady adentrar qualquer tribo na nova escola que reside a ideia a dar o estopim
a uma espécie de plano de vingança de Janis: Já que ninguém sabe que Cady é
amiga dela, a novata poderá infiltrar-se no restrito clube das poderosas –que, além
de Regina inclui a abilolada Karen (Amanda Seyfried) e a devotada Gretchen
(Lacey Chabert, do seriado “O Quinteto”) –e sabotar a imagem de perfeição de
Regina.
O plano até vai dando certo –Regina perde sua
credibilidade (numa série de intrigas que fragilizam seu grupo de amigas), suas
armas de sedução (ao engordar comendo barras de cereais sugeridas por Cady) e o
namorado atleta que ostentava (Jonathan Bennett que, com ela e Lohan, compõem o
triângulo amoroso da trama) –contudo, o sacrifício para isso acaba sendo a
própria inocência de Cady (que gradualmente vai perdendo sua transparência para
adquirir, sem notar, a falsidade do comportamento das poderosas) e por conta
disso, a amizade dela com Janis e Damian.
O roteiro de Tina Fey evolui essa narrativa até
desembocar num caos que envolve praticamente toda a escola –ou, pelo menos,
todas as meninas da escola –dando ao público um microcosmos divertido por meio
do qual podemos observar as consequência individuais de certas ações sobre toda
uma comunidade; nesse sentido, uma versão não tão ácida e bem mais agridoce de “Atração Mortal”.
Terminado, o filme de
Waters oferece redenção às suas protagonistas, uma crítica social nada
demagógica aos seus expectadores junto de uma dose considerável de simpática
diversão, isso tudo, para uma mera comédia adolescente é admirável.
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