domingo, 29 de maio de 2016

Um Amor A Cada Esquina

Houve um tempo (há muito tempo atrás, mais precisamente nos anos 1970, época do movimento da Nova Hollywood) em que o diretor Peter Bogdanovich era uma das grandes promessas do cinema: Filmes assinados por ele, como “Na Mira da Morte”, “A Última Sessão de Cinema” ou “Lua de Papel” eram (e até hoje ainda são) revelações de um talento inquestionável. Cinéfilo inveterado, seus filmes faziam referências e homenagens aos grandes mestres do passado; John Ford, Alfred Hichtcook, Jacques Tourneur e muitos outros.
Nos anos 1980, contudo, o mundo viu essa chama meio que se apagar e Bogdanovich não emplacou mais nenhum grande trabalho. Algo, pensando bem, um pouco parecido com o quê ocorreu, anos depois, com Win Wenders, cuja carreira começou promissora e genial mas afundou-se em filmes pretensiosos e pouco relevantes.
“Um Amor A Cada Esquina” é um dos poucos filmes realizados por Peter Bogdanovich, nos últimos tempos, a aportar nas salas de cinema (a maioria de seus trabalhos tem se concentrado na televisão).
Percebe-se porém que ele nem mudou tanto assim: Há muita perícia em sua encenação, talento na direção de atores e, sobretudo, um amor pelo cinema que pulsa em quase todo as cenas, impondo uma proximidade com as comédias antigas dos anos 1930 (o letreiro inicial e a narração são típicos), com o clássico “Bonequinha de Luxo” , de Blake Edwards, fartamente referenciado, e até mesmo com alguns trabalhos de Woody Allen (embora talvez a referência mais pontual e significativa seja “O Pecado de Cluny Brown”, ao qual o filme paga até um tributo em suas cenas finais).
A atriz principal, com mérito e ênfase, é a inglesa Imogen Poots (que aqui faz um bizarro e estranhamente sedutor sotaque americano), belíssima e competente e que, depois desse filme, torço para que apareça em muitos outros mais: Entre tanta gente muito boa que Bogdanovich colocou em seu filme, ela é quem consegue mais impressionar.
Acompanhamos assim a jornada de uma jovem tentando um lugar ao sol na disputada e impiedosa Nova York (Imogen Poots, maravilhosa e divertida ao narrar com espirituosidade sua própria história). Ela precisa de início trabalhar como garota de programa, e dessa forma acaba conhecendo o diretor de teatro interpretado por Owen Wilson (e suas cenas cômicas, às voltas com situações constrangedoras, emulam com perfeição os filmes de Woody Allen). Acontece que, logo depois, ela resolve fazer um teste para a mesma peça que ele está dirigindo. Ela é contratada como atriz principal, mas, como a esposa dele (Kathryn Hahn) também faz parte do elenco, as confusões estão só começando.
Outros qüiproquós: Um velho juiz, cliente obcecado pela moça, à persegue o tempo todo, chegando a contratar um veterano detetive particular. Esse detetive vem a ser pai do dramaturgo autor da peça (Will Forte), ele cai de amores pela jovem que tenta ocultar sua profissão de todos. O juiz e a garota de programa, sem saber, freqüentam a mesma e temperamental terapeuta (Jennifer Anniston) que, por sua vez, é namorada do dramaturgo (!).
Uma ciranda de coincidências e confusões nem sempre harmoniosa, mas que diz muito sobre o tipo de cinema pelo qual Peter Bogdanovich é interessado.
Gostar ou não de seu filme depende muito de comprar sua idéia e ignorar alguns excessos que perturbam ocasionalmente a narrativa, mas é uma tarefa muito fácil quando ele coloca em cena uma jovem tão linda e hipnótica quanto Imogen Poots.

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