Houve um tempo (há muito tempo atrás, mais
precisamente nos anos 1970, época do movimento da Nova Hollywood) em que o
diretor Peter Bogdanovich era uma das grandes promessas do cinema: Filmes
assinados por ele, como “Na Mira da Morte”, “A Última Sessão de Cinema” ou “Lua
de Papel” eram (e até hoje ainda são) revelações de um talento inquestionável.
Cinéfilo inveterado, seus filmes faziam referências e homenagens aos grandes mestres
do passado; John Ford, Alfred Hichtcook, Jacques Tourneur e muitos outros.
Nos anos 1980, contudo, o mundo viu essa chama
meio que se apagar e Bogdanovich não emplacou mais nenhum grande trabalho. Algo,
pensando bem, um pouco parecido com o quê ocorreu, anos depois, com Win Wenders,
cuja carreira começou promissora e genial mas afundou-se em filmes pretensiosos
e pouco relevantes.
“Um Amor A Cada Esquina” é um dos poucos filmes
realizados por Peter Bogdanovich, nos últimos tempos, a aportar nas salas de
cinema (a maioria de seus trabalhos tem se concentrado na televisão).
Percebe-se porém que ele nem mudou tanto assim:
Há muita perícia em sua encenação, talento na direção de atores e, sobretudo,
um amor pelo cinema que pulsa em quase todo as cenas, impondo uma proximidade
com as comédias antigas dos anos 1930 (o letreiro inicial e a narração são
típicos), com o clássico “Bonequinha de Luxo” , de Blake Edwards, fartamente
referenciado, e até mesmo com alguns trabalhos de Woody Allen (embora talvez a
referência mais pontual e significativa seja “O Pecado de Cluny Brown”, ao qual
o filme paga até um tributo em suas cenas finais).
A atriz principal, com mérito e ênfase, é a
inglesa Imogen Poots (que aqui faz um bizarro e estranhamente sedutor sotaque
americano), belíssima e competente e que, depois desse filme, torço para que
apareça em muitos outros mais: Entre tanta gente muito boa que Bogdanovich
colocou em seu filme, ela é quem consegue mais impressionar.
Acompanhamos assim a jornada de uma jovem
tentando um lugar ao sol na disputada e impiedosa Nova York (Imogen Poots,
maravilhosa e divertida ao narrar com espirituosidade sua própria história).
Ela precisa de início trabalhar como garota de programa, e dessa forma acaba
conhecendo o diretor de teatro interpretado por Owen Wilson (e suas cenas
cômicas, às voltas com situações constrangedoras, emulam com perfeição os
filmes de Woody Allen). Acontece que, logo depois, ela resolve fazer um teste
para a mesma peça que ele está dirigindo. Ela é contratada como atriz principal,
mas, como a esposa dele (Kathryn Hahn) também faz parte do elenco, as confusões
estão só começando.
Outros qüiproquós: Um velho juiz, cliente
obcecado pela moça, à persegue o tempo todo, chegando a contratar um veterano
detetive particular. Esse detetive vem a ser pai do dramaturgo autor da peça
(Will Forte), ele cai de amores pela jovem que tenta ocultar sua profissão de
todos. O juiz e a garota de programa, sem saber, freqüentam a mesma e
temperamental terapeuta (Jennifer Anniston) que, por sua vez, é namorada do
dramaturgo (!).
Uma ciranda de coincidências e confusões nem
sempre harmoniosa, mas que diz muito sobre o tipo de cinema pelo qual Peter
Bogdanovich é interessado.
Gostar ou não de seu filme
depende muito de comprar sua idéia e ignorar alguns excessos que perturbam
ocasionalmente a narrativa, mas é uma tarefa muito fácil quando ele coloca em
cena uma jovem tão linda e hipnótica quanto Imogen Poots.
Nenhum comentário:
Postar um comentário