“Laputa” é um dos muitos trabalhos fascinantes
de Hayao Miyazaki. Ao contrário de outros, as interferências de magia, nesta
trama, são quase mínimas. Percebe-se porém, nitidamente tudo o quê inspira e
interessa a Miyazaki ao longo de toda sua genial filmografia: A paixão por
exuberantes máquinas voadoras; o caráter ambíguo dos personagens, impossíveis
de serem distinguidos entre heróis e vilões; a trama complexa e rocambolesca
que revela insuspeita fé na capacidade de compreensão do público infantil; e o
talento para criar um mundo novo e elaborado, dentro do qual regras próprias
regem o destino de seus habitantes e os rumos inesperados de sua história.
Parece ser o final do século XIX, e uma jovem
princesa, Lusheeta, é disputada por dois grupos rivais, os Piratas (transgressores
alados interessados em pilhagens e lucro fácil) e os membros do Exército (uma
organização bélica que, apesar de um curioso discurso legislativo, tem a mesma
sanha por tesouros). Ambos têm características vilanescas e ambos têm lá seus
princípios, mas o quê eles mais têm em comum é o desejo de encontrar Laputa, o
lendário castelo do céu (tal e qual aquele que aparece em “Viagens de Gulliver”
de Jonathan Swift, cujo livro é mencionado num dado momento da narrativa).
Trata-se de uma maravilha da arquitetura e da tecnologia antiga, do qual
somente uma parece ter restado. E como Lusheeta descende de uma família que, no
passado, reinou nesse lugar ela carrega consigo a única maneira de encontrá-la.
Logo no início, Lusheeta se perde desses dois
grupos e é encontrada por um jovem órfão que trabalha numa cidade de
mineradores, o destemido Pazu.
De longe os dois personagens mais puros e
cativantes da animação, os dois logo se tornam os protagonistas, e cabe ao
expectador vivenciar com eles os percalços que atravessarão para encontrar o
tal castelo no céu, na espetacular metade final do filme.
Todo ele, entretanto, é fabuloso: Miyazaki
emprega todo o arrojo que é típico da animação japonesa para conceber cenas
estarrecedoras, mesmo hoje, trinta anos depois de sua realização (o filme é de
1986): O cenário da cidade de mineração, com trilhos de trem a singrar a
paisagem, e túneis a perfurar as montanhas pontuadas por cidades surgidas na
vertical, é impressionante, como também é o designer das máquinas voadoras, as
naves bélicas gigantescas do Exército, e até mesmo o navio voador dos piratas.
E o quê dizer de Laputa, o castelo no céu quando ele, por fim, aparece?
É um dom de Miyazaki: Capturar uma certa espécie
de deslumbramento e fascínio que, muitas vezes, só experimentamos em
experiências da infância e depositá-lo com toda a força e poesia em seus filmes,
brindando-nos com imagens inesquecíveis, a emanar uma aura e uma atmosfera que
parecem fazê-las inalcançáveis.
Difícil apontar qual o melhor trabalho de
Miyazaki, mas certamente “O Castelo No Céu” está entre eles.
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