domingo, 29 de maio de 2016

O Castelo No Céu

“Laputa” é um dos muitos trabalhos fascinantes de Hayao Miyazaki. Ao contrário de outros, as interferências de magia, nesta trama, são quase mínimas. Percebe-se porém, nitidamente tudo o quê inspira e interessa a Miyazaki ao longo de toda sua genial filmografia: A paixão por exuberantes máquinas voadoras; o caráter ambíguo dos personagens, impossíveis de serem distinguidos entre heróis e vilões; a trama complexa e rocambolesca que revela insuspeita fé na capacidade de compreensão do público infantil; e o talento para criar um mundo novo e elaborado, dentro do qual regras próprias regem o destino de seus habitantes e os rumos inesperados de sua história.
Parece ser o final do século XIX, e uma jovem princesa, Lusheeta, é disputada por dois grupos rivais, os Piratas (transgressores alados interessados em pilhagens e lucro fácil) e os membros do Exército (uma organização bélica que, apesar de um curioso discurso legislativo, tem a mesma sanha por tesouros). Ambos têm características vilanescas e ambos têm lá seus princípios, mas o quê eles mais têm em comum é o desejo de encontrar Laputa, o lendário castelo do céu (tal e qual aquele que aparece em “Viagens de Gulliver” de Jonathan Swift, cujo livro é mencionado num dado momento da narrativa). Trata-se de uma maravilha da arquitetura e da tecnologia antiga, do qual somente uma parece ter restado. E como Lusheeta descende de uma família que, no passado, reinou nesse lugar ela carrega consigo a única maneira de encontrá-la.
Logo no início, Lusheeta se perde desses dois grupos e é encontrada por um jovem órfão que trabalha numa cidade de mineradores, o destemido Pazu.
De longe os dois personagens mais puros e cativantes da animação, os dois logo se tornam os protagonistas, e cabe ao expectador vivenciar com eles os percalços que atravessarão para encontrar o tal castelo no céu, na espetacular metade final do filme.
Todo ele, entretanto, é fabuloso: Miyazaki emprega todo o arrojo que é típico da animação japonesa para conceber cenas estarrecedoras, mesmo hoje, trinta anos depois de sua realização (o filme é de 1986): O cenário da cidade de mineração, com trilhos de trem a singrar a paisagem, e túneis a perfurar as montanhas pontuadas por cidades surgidas na vertical, é impressionante, como também é o designer das máquinas voadoras, as naves bélicas gigantescas do Exército, e até mesmo o navio voador dos piratas. E o quê dizer de Laputa, o castelo no céu quando ele, por fim, aparece?
É um dom de Miyazaki: Capturar uma certa espécie de deslumbramento e fascínio que, muitas vezes, só experimentamos em experiências da infância e depositá-lo com toda a força e poesia em seus filmes, brindando-nos com imagens inesquecíveis, a emanar uma aura e uma atmosfera que parecem fazê-las inalcançáveis.
Difícil apontar qual o melhor trabalho de Miyazaki, mas certamente “O Castelo No Céu” está entre eles.

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