sexta-feira, 17 de junho de 2016

A Classe Dominante

Provavelmente um dos filmes menos assistidos da História da Humanidade (eu mesmo nunca conversei com ninguém que tenha visto...) é, curiosamente, um dos que deu uma indicação ao Oscar para o saudoso Peter O’ Toole (até hoje ele detêm o recorde de ator mais indicado sem nunca ter ganhado um prêmio na categoria).
E a interpretação de O’ Toole é mesmo um achado: Dá dimensão e humanidade à um personagem que representa uma armadilha para qualquer ator: Um hippie com muitos parafusos soltos na cabeça, que acredita ser Jesus Cristo, mas na realidade é herdeiro de uma grande fortuna.
Rastreado e encontrado pelos abutres de costume, ele é submetido a uma série de tratamentos, ora frustrantes, ora danosos, para deixá-lo “normal” ou, senão, mais próximo da capacidade de fingir alguma normalidade.
O problema é que, no início, ainda que maluco, ele era inofensivo, e essas intervenções acabam transformando-o numa espécie de psicopata, ou seja, em prol da ganância, um indivíduo de boas intenções é substituído por alguém maligno que infelizmente se encaixa muito melhor à nossa sociedade.
A progressão com a qual O’ Toole registra essa transformação é dotada de detalhismo e impacto, responsáveis, certamente pela sua lembrança no Oscar. Não é só: O diretor Peter Medak conduz a trama, desigual por si só, sem jamais atrelá-la à uma definição clara, indo da comédia ao drama, do musical ao suspense, da galhofa à seriedade sem maiores subterfúgios, deixando uma sensação estranha e desconcertante no expectador.
Como testemunhas da trajetória imprevisível de um personagem para longe de si mesmo, “A Classe Dominante” nos tira de qualquer zona de conforto.

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