Até hoje, este retumbante e merecido sucesso de
bilheteria e crítica dos estúdios Disney enfrenta certas acusações acerca da
legitimidade de seu material: Muitos detratores apontam as enormes semelhanças
deste desenho com a clássica série de animação japonesa de Osamu Tezuka,
“Kimba-O Leão Branco”.
Não são afirmações tão infundadas assim. De
fato a trama guarda enormes (e, talvez, até constrangedoras) similaridades: A
começar pelo nome dos protagonistas, Kimba e Simba (vale ressaltar que, nos
anos 1970, Tezuka até tentou batizar seu herói de Simba, mas foi impedido
definido aos direitos de marca de um refrigerante que fazia muito sucesso na
época!), além dos personagens coadjuvantes que, de um modo geral, são muito
parecidos e os lances da história, resumidamente, a morte do pai do leãozinho,
e seu épico retorno para o reino dos animais onde vai ocupar o lugar que é seu
por direito.
São acontecimentos em comum em ambas as
produções, mas cujo tratamento (e desdobramentos), bastante diferenciados,
normalmente os detratores preferem esquecer.
A verdade é que “O Rei Leão” é um trabalho que
certamente brilha por si só. Embora hajam, sim, elementos em comum com a obra
de Tezuka (ele foi aprovado e abençoado pela viúva de Osamu Tezuka, diga-se),
esta animação firma-se como uma magnífica realização e até hoje, passadas até
algumas décadas, e mesmo após muitas inovações técnicas –muitas delas possíveis
pela própria Disney –continua sendo um assombro para os olhos e o coração.
Acompanhamos a jornada quase shakesperiana do
pequeno leãozinho Simba, que desde sempre recebeu a instrução de seu majestoso
pai, Mufasa, de que a herança que lhe pertence por direito como rei dos animais
trás uma responsabilidade, na qual está em jogo o equilíbrio de toda a vida.
Não tarda muito, e Mufasa se torna vítima de um plano fatal, perpetrado por seu
maquiavélico irmão Scar: Ele deposita a culpa da morte de Mufasa em Simba que
foge por anos, deixando a selva e seus súditos aos caprichos de Scar e seus
asquerosos asseclas, as hienas. Contudo, é o destino de Simba voltar, e
restabelecer a ordem ao ciclo da natureza, tão preciosa à seu pai.
Já, na trama do anime de Tezuka, por sua vez, o
pai de Kimba (também ele um rei) é morto por caçadores. O filhote (que como o
pai pertencia à raríssima raça de leões brancos), nasce numa espécie de barco à
caminho de algum zoológico, e escapa graças ao sacrifício de sua mãe e, ao
longo de toda a série, recorda as orientações finais dela: Voltar para a selva
e para seu reino.
Seguem-se muitas aventuras onde o leãozinho vai
parar em diversas cidades até por fim regressar à África, e ao seu reino, onde
duras provações se seguirão.
Uma das mais marcantes realizações da animação
japonesa, “Kimba-O Leão Branco” é cultuado até hoje por muitos que assistiram
quando criança a série. Pontuada por elementos incomuns mesmo nas animações
atuais, “Kimba” tinha elementos fatalistas, sombrios, de cunho ecológico e
social. Uma obra-prima sem igual que confirma o talento de Osamu Tezuka.
Ao contrário de “Kimba”, não há intervenções de
quaisquer personagens humanos em “O Rei Leão”. Ele também não possui toda a
riqueza de desdobramentos com a qual a história extremamente ampla e complexa
da série se beneficia, o quê é algo perfeitamente compreensível e justificável.
O curioso mesmo é que anos depois, em 2001, a
Disney realizou outro longa-metragem animado, “Atlantis-O Reino Perdido”, cujas
semelhanças com outra animação japonesa, “Nadia-The Secret Of The Blue Water”
eram infinitamente mais explícitas e flagrantes, e ninguém pareceu se incomodar
tanto assim...
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