São quase indefiníveis as muitas perplexidades
expostas por Luiz Fernando Carvalho ao expectador em “Lavoura Arcaica”.
A trama, em si, talvez tivesse um
desenvolvimento simples e certamente sem surpresas se fosse contada em ordem
cronológica, sem os arroubos autorais e simbólicos que nunca deixam de pairar
na tela durante as duas horas e meia de filme.
Mas essa talvez seja a única forma que levar os
acontecimentos do livro de Raduan Nassar para o cinema: Dando-lhes o mesmo
rebuscamento que o leitor encontra na obra literária.
Selton Mello personifica aqui, mais que seu
personagem, André, a dor de seu personagem: Um dilaceramento que o define,
antes mesmo de sabermos porque sofre e quais eventos o levaram a refugiar-se
naquele quarto de hotel barato, onde ele declama os mais shakesperianos
pensamentos acerca da vida e do farod de existir, enquanto enche a cara de
vinho.
Leornardo Medeiros, seu irmão mais velho, é
quem vai buscá-lo, confrontando-o, de início, com uma austeriade, que ambos
logo irão perceber é só uma fachada.
Todos aqui sofrem de algum pesar impronunciável.
E todos (à exceção de André) acreditam que é melhor submeter sua existência à
um conformismo do que escrutinar essa dor.
Os flashbacks que intercalam a estranhamente
lenta aproximação dos dois vão trazendo alguma luz à escuridão daqueles
acontecimentos: Ambos vêem de uma família de descendência libanesa, na qual o
pai (Raul Cortez) parece exercer influência autoritária e avassaladora, em
contraponto ao amor incondicional e algo sufocante da mãe (essa dicotomia pai e
mãe/opressão e ternura surge também, de maneira mais branda, em “A Árvore da
Vida”, de Terence Malick).
Os tormentos de André, contudo, não estão por
inteiro esclarecidos: Eles dizem respeito à Ana, a personagem de Simone
Spoladore, e ao sentimento incestuoso que ela desperta no protagonista, cuja
incapacidade de negá-lo, dispara uma necessidade de contestação que ele irá
arremessar contra os ditames da família, da sociedade e de Deus, levando-o
àquele rompimento existencial.
Mas, André deve regressar ao seio familiar, e
com ele, regressarão verdades difíceis de serem encaradas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário