Quem é Takashi Miike? Um pergunta cuja resposta
encontra muitas variáveis. Certamente é um dos mais iconoclastas, originais e
audaciosos realizadores japoneses da atualidade. Em seu despojamento autoral,
ele parece estar mais para Seijun Suzuki do que para Akira Kurosawa.
Dele, vi quatro filmes até hoje: Todo o
restante de sua filmografia é amplo, variado e apetitoso, embora não raro,
ofereça aquela sensação desconfortável de ar rarefeito, obtida com a maestria
com que consegue manipular elementos que chocam o expectador.
Os quatro títulos que Miike que conheço: O
sarcástico, perturbador e violentíssimo “Ichi-O Assassino”, o juvenil “Operação
Corvo”, o delirante, empolgante e, no fim, absurdo “Morrer Ou Viver” (soube que
é o primeiro de uma trilogia), e este “13 Assassinos”.
Todos os outros são filmes de yakuza com
diferentes e inspiradas variações, “13 Assassinos” é um filme de samurai.
E uma refilmagem.
Embora não tenha conferido o filme original, é
patente o quanto o conceito e a trama de “Os Sete Samurais”, de Kurosawa,
assombra este projeto (e, não tenho dúvidas, deve assombrar o filme original,
também).
É 1844. Uma era de paz chega ao xogunato
tornando obsoletos os serviços prestados por muitos dos samurais. Todavia, um
nobre cujas atitudes são protegidas por sua aristocracia e pelo código de honra
vigente no Japão exacerba em sua atrocidades, estuprando, matando e torturando
como só personagens saídos das narrativas sádicas de Miike costumam fazer.
Por baixo dos panos, uma decisão é tomada e o
veterano samurai Shizaemon é incumbido de montar um grupo com o qual deve
neutralizar esse nobre, antes que suba ainda mais ao poder.
Essas meticulosas questões, que dominam a
primeira parte do filme, surgem como subterfúgios conspiratórios, dando corpo à
narrativa, estabelecendo o clima de expectativa para tudo que está por vir.
Particularmente talentosa é a forma com que
Miike constrói um vilão plenamente detestável (e os ocasionais tons de cinza
não caberiam, de fato, em sua caracterização), que depõe, mais do que qualquer
coisa a favor de seus heróis, levando o público a torcer por eles.
São momentos chocantes, é bem verdade (como
esquecer a cena da menina com membros amputados?!), mas representam também uma
inestimável contribuição de Miike à este gênero tão clássico.
Infelizmente para a missão dos assassinos, o
séqüito do vilão inclui samurais habilidosos para protegê-lo, inclusive um
antigo colega de Shizaemon, o austero e igualmente habilidoso Hanbei.
Aliado aos outros doze
companheiros recrutados ao longo do caminho, Shizaemon irá preparar uma
armadilha derradeira, cuja execução será por inteira mostrada na meia hora
final do filme, uma das batalhas mais insanas de toda a história dos filmes de
samurais.
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