Talvez,o diretor Leos Carax tivesse em mente
uma obra que remetesse o comiserativo “Os Esquecidos” de Buñuel, em seu
registro impiedoso da vida indigente.
Mas, em algum momento, o romantismo tipicamente
francês deve ter infectado suas convicções, possivelmente potencializado pela
presença inebriante de Juliette Binoche como Michele, a jovem que abandona a
família para viver entre os mendigos e pintar quadros, mas que vai, aos poucos,
perdendo a visão devido à uma doença.
Alex (Denis Lavant) é um jovem de rua que se
apaixona por ela e, embora saiba que a reaproximação dela com a família permite
com que faça uma operação que lhe traga a visão de volta, ele busca impedir (ou
protelar ao máximo) esse momento, uma vez que a relação com Michele chega em um
ponto afetivo que beira a dependência.
Mais do que uma fugaz história de amor em meio
à pobreza extrema, Leos Carax parece interessado em mostrar as implicações de
um conto no qual o amor tem o poder de vilipendiar, no qual o desespero leva a
uma busca pela perpetuação do que sabemos ser efêmero, fazendo com que contemos
mentiras a nós mesmos.
Leos Carax fez grandes filmes, mas nenhum
talvez tenha atingido o equilíbrio entre a fria precisão com que se debruça
sobre os personagens, e a percepção aguçada, não desprovida de compaixão, para
compreender, e externar, seus sentimentos.
É adequado que seja um
francês a entender algo assim.
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