terça-feira, 28 de junho de 2016

Os Amantes da Pont-Neuf

Talvez,o diretor Leos Carax tivesse em mente uma obra que remetesse o comiserativo “Os Esquecidos” de Buñuel, em seu registro impiedoso da vida indigente.
Mas, em algum momento, o romantismo tipicamente francês deve ter infectado suas convicções, possivelmente potencializado pela presença inebriante de Juliette Binoche como Michele, a jovem que abandona a família para viver entre os mendigos e pintar quadros, mas que vai, aos poucos, perdendo a visão devido à uma doença.
Alex (Denis Lavant) é um jovem de rua que se apaixona por ela e, embora saiba que a reaproximação dela com a família permite com que faça uma operação que lhe traga a visão de volta, ele busca impedir (ou protelar ao máximo) esse momento, uma vez que a relação com Michele chega em um ponto afetivo que beira a dependência.
Mais do que uma fugaz história de amor em meio à pobreza extrema, Leos Carax parece interessado em mostrar as implicações de um conto no qual o amor tem o poder de vilipendiar, no qual o desespero leva a uma busca pela perpetuação do que sabemos ser efêmero, fazendo com que contemos mentiras a nós mesmos.
Leos Carax fez grandes filmes, mas nenhum talvez tenha atingido o equilíbrio entre a fria precisão com que se debruça sobre os personagens, e a percepção aguçada, não desprovida de compaixão, para compreender, e externar, seus sentimentos.
É adequado que seja um francês a entender algo assim.

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