domingo, 31 de julho de 2016

Cantando Na Chuva

   Por trás de todos os “ismos”, teorias, simbologias e mensagens subliminares, o verdadeiro objetivo do cinema é tornar as pessoas mais felizes. A partir dessa simples intenção, um dos clássicos que com mais perfeição sintetiza essa vontade de agradar o expectador (e a plena capacidade de fazê-lo) é “Cantando Na Chuva”.
   E é transcendental o fato de que ele o faz falando sobre o próprio cinema.
   Aqui, o incomparável Gene Kelly (no papel que imortalizou sua imagem na História do Cinema) é Don Lockwood, astro do cinema mudo que, como todos os profissionais da área, viu seu mundo se transformar com a chegada do som.
   Ainda sim, para Don essa foi uma mudança pela qual passou relativamente incólume; pior foi para Lina Lamont (Jean Hagen), sua parceira de tela, cuja voz, terrivelmente estridente, ameaça dar um fim ao seu estrelato.
  Para resolver esse problema, e finalizar o filme que estavam fazendo, Don e seu amigo Cosmo (Donaldo O’Connor) têm um plano de última hora: dublar as cenas de Lina usando a bela voz da jovem Kathy Selden (Debbie Reynolds, a candura em pessoa).
   É justamente nesse momento (no qual uma idéia inesperada reacende as esperanças de que tudo venha a melhorar) que o filme ganha seu grande momento (entre tantos que vieram antes e que virão depois) quando Gene Kelly deixa transbordar sua felicidade numa cena musical debaixo de chuva, e dá ao mundo a chance de saborear sua arte e sua habilidade inimitável.
   Um momento sublime que define por inteiro a magia do cinema.
   Entretanto, a medida que a trama avança, uma situação de exploração logo se constrói: Lina quer prosseguir com a carreira e permanecer sendo uma estrela, o quê significa cooptar Kathy para continuar substituindo sua voz perante todo o mundo, tolhendo assim os sonhos dela para tornar-se, ela mesma, uma estrela.

   Falando sobre o advento do cinema sonoro com muito mais propriedade do que um dos recentes ganhadores do Oscar (o mediano “O Artista”), este trabalho feito com amor incondicional por Kelly e Stanley Donen traduz com rara perfeição o encanto que a arte cinematográfica tem, e sempre terá, sobre o público: Sua capacidade de despertar genuíno prazer no expectador cena após cena é o que o mantém, até hoje, como um dos melhores musicais do cinema.

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