Por trás de todos os “ismos”, teorias,
simbologias e mensagens subliminares, o verdadeiro objetivo do cinema é tornar
as pessoas mais felizes. A partir dessa simples intenção, um dos clássicos que
com mais perfeição sintetiza essa vontade de agradar o expectador (e a plena
capacidade de fazê-lo) é “Cantando Na Chuva”.
E é transcendental o fato de que ele o faz
falando sobre o próprio cinema.
Aqui, o incomparável Gene Kelly (no papel que
imortalizou sua imagem na História do Cinema) é Don Lockwood, astro do cinema
mudo que, como todos os profissionais da área, viu seu mundo se transformar com
a chegada do som.
Ainda sim, para Don essa foi uma mudança pela
qual passou relativamente incólume; pior foi para Lina Lamont (Jean Hagen), sua
parceira de tela, cuja voz, terrivelmente estridente, ameaça dar um fim ao seu
estrelato.
Para resolver esse problema, e finalizar o
filme que estavam fazendo, Don e seu amigo Cosmo (Donaldo O’Connor) têm um
plano de última hora: dublar as cenas de Lina usando a bela voz da jovem Kathy
Selden (Debbie Reynolds, a candura em pessoa).
É justamente nesse momento (no qual uma idéia
inesperada reacende as esperanças de que tudo venha a melhorar) que o filme
ganha seu grande momento (entre tantos que vieram antes e que virão depois)
quando Gene Kelly deixa transbordar sua felicidade numa cena musical debaixo de
chuva, e dá ao mundo a chance de saborear sua arte e sua habilidade inimitável.
Um momento sublime que define por inteiro a
magia do cinema.
Entretanto, a medida que a trama avança, uma
situação de exploração logo se constrói: Lina quer prosseguir com a carreira e
permanecer sendo uma estrela, o quê significa cooptar Kathy para continuar
substituindo sua voz perante todo o mundo, tolhendo assim os sonhos dela para
tornar-se, ela mesma, uma estrela.
Falando sobre o advento do cinema sonoro com
muito mais propriedade do que um dos recentes ganhadores do Oscar (o mediano “O
Artista”), este trabalho feito com amor incondicional por Kelly e Stanley Donen
traduz com rara perfeição o encanto que a arte cinematográfica tem, e sempre
terá, sobre o público: Sua capacidade de despertar genuíno prazer no expectador
cena após cena é o que o mantém, até hoje, como um dos melhores musicais do
cinema.
Nenhum comentário:
Postar um comentário