quarta-feira, 10 de agosto de 2016

A Companhia dos Lobos

“Chapeuzinho Vermelho” numa versão sombria, rebuscada, simbólica, fragmentada, e absolutamente adulta: Esta é a forma mais honesta de se definir este filme desestabilizador realizado por Neil Jordan durante os anos 1980 (anterior, portanto à sua consagração mundial fora de sua Irlanda natal).
Moradora de uma aldeia medieval da Europa, a menina Rosaleen (Sarah Patterson, belíssima) é uma jovem florescendo para seu iminente despertar sexual. Junto com essa nova condição, contudo, surgem histórias e temores tão primitivos quanto inéditos, e eles dão conta, em sua maioria, de lobos que se transformam em homens e homens que se transformam em lobos, todos eles habitantes de histórias que transcorrem na imaginação da jovem, mas que ganham corpo muito real nos acontecimentos sinistros registrados na floresta amaldiçoada que os envolve.
Um agente catalisador desse medo de Rosaleen parece ser a avó (a ótima Angela Lansbury) cujas histórias vão num crescendo de sordidez e significados profundamente implícitos a medida que Rosaleen se converte cada vez mais irreversivelmente em mulher.

É, portanto, o medo, na visão iconoclasta do diretor Jordan, um instrumento de manipulação e restrição ancestral, na medida em que, paradoxalmente, serve para manter em segurança uma indomada alma querida -seja um filho ou, no caso, uma neta. E ao ilustrar em imagens o propósito ambíguo desse medo, Jordan remete sem hesitação à um cinema gótico, cujas ramificações não se inibem em dirigir-se para outras vertentes do terror, umas opostas ou até contraditórias, como o expressionismo ou gore. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário