“Chapeuzinho Vermelho” numa versão sombria, rebuscada,
simbólica, fragmentada, e absolutamente adulta: Esta é a forma mais honesta de
se definir este filme desestabilizador realizado por Neil Jordan durante os
anos 1980 (anterior, portanto à sua consagração mundial fora de sua Irlanda
natal).
Moradora de uma aldeia medieval da Europa, a
menina Rosaleen (Sarah Patterson, belíssima) é uma jovem florescendo para seu
iminente despertar sexual. Junto com essa nova condição, contudo, surgem
histórias e temores tão primitivos quanto inéditos, e eles dão conta, em sua
maioria, de lobos que se transformam em homens e homens que se transformam em
lobos, todos eles habitantes de histórias que transcorrem na imaginação da
jovem, mas que ganham corpo muito real nos acontecimentos sinistros registrados
na floresta amaldiçoada que os envolve.
Um agente catalisador desse medo de Rosaleen
parece ser a avó (a ótima Angela Lansbury) cujas histórias vão num crescendo de
sordidez e significados profundamente implícitos a medida que Rosaleen se
converte cada vez mais irreversivelmente em mulher.
É, portanto, o medo, na visão iconoclasta do
diretor Jordan, um instrumento de manipulação e restrição ancestral, na medida em que,
paradoxalmente, serve para manter em segurança uma indomada alma querida -seja um filho ou, no caso, uma neta. E ao
ilustrar em imagens o propósito ambíguo desse medo, Jordan remete sem hesitação
à um cinema gótico, cujas ramificações não se inibem em dirigir-se para outras
vertentes do terror, umas opostas ou até contraditórias, como o expressionismo
ou gore.
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