Não há como negar que existe uma fórmula para
se fazer certos filmes dentro do cinema independente norte-americano, por meio
da qual alguns realizadores visam um apelo específico junto ao público, uma
atenção da crítica obtida em geral pelo caminho mais fácil, e normalmente uma
identificação com obras já consagradas que preservem inadvertido carinho junto
à seus cultuadores.
O exemplo máximo dessa fórmula costuma sempre
ser o saboroso “Pequena Miss Sunshine”.
Misto de roteiro espirituoso, acertos
inquestionáveis de elenco e fôlego narrativo, ele se assume como aquele misto
de comédia e drama, centrado numa família disfuncional e que, para todos os
efeitos, é um retrato simpático dos fracassados da América, os desiludidos
sonhadores da classe média baixa que se escondem à sombra do “american way of
life”.
A tal família em questão (e que reúne diversos
personagens carregados idiossincrasias e peculiaridades) embarca numa kombi
para, todos juntos, fazer uma verdadeira migração até outra cidade onde será
realizado o concurso de beleza mirim "pequena miss sunshine",do qual
a caçula da família, a pequena Olívia (Abigail Breslin, uma graça), deseja
ardentemente participar. A família de Olivia é, como não podia deixar de ser,
uma coleção de figuras desajustadas: seu pai (Gregg Kinnear), um homem assombrado
pela ideia do fracasso e viciado no programa de auto-ajuda que ele mesmo criou;
seu avô (o oscarizado Alan Arkin), homem rabugento e lascivo, ainda que
cativante; seu tio (Steve Carell), um homossexual depressivo e suicida; seu
irmão (Paul Dano), um jovem esquisito que fez voto de silêncio para ingressar
na academia militar; e sua mãe (Toni Collette) que se ilude ao tentar assumir o
papel de ponto de equilíbrio de todos eles. A precária viagem que farão servirá
para todos entenderem melhor a si mesmos.
É uma espécie de tendência surgida no cinema
independente (e como toda tendência tem uma conseqüência nociva) surgida
justamente a partir da consagração deste filme, ganhador dos Oscar (merecidos)
de Melhor Ator Coadjuvante e Melhor Roteiro Original.
De fato, o equilíbrio de gêneros e humores
atende a quase todas as fatias de público, e sua postura algo alternativa
garante interesse dos mais intelectuais: É, por assim sim, uma receita de como
fazer um filme que todo mundo irá gostar.
O único problema é quando
isso afeta uma das mais prolíficas vertentes do cinema norte-americano, já
bastante judiado pelas imposições dos blockbusters de estúdios.
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