terça-feira, 9 de agosto de 2016

O Segredo de Brokeback Mountain

Um dos grandes trabalhos da carreira de Ang Lee, pelo qual ele conquistou seu primeiro Oscar de Melhor Diretor (o segundo viria por “As Aventuras de Pi”), este filme vinha, como era de se imaginar, embalado num tema controverso: O romance proibido entre dois homens.
O curioso é que o tratamento dado pelo diretor Lee conduzia a história como qualquer romance, ignorando o gênero dos protagonistas envolvidos: Uma forma austera e admirável de se abordar uma trama que poderia involuntariamente resvalar em várias posturas sócio-políticas.
O filme em si agradou público e crítica e a maior polêmica que o cercou envolvia mais os veículos de mídia que não lhe davam o devido enaltecimento, e os prêmios que lhe eram negados por um suposto preconceito (um deles, o Oscar de Melhor Filme).
A narrativa de Lee, que se estenderá pelo filme ao longo de décadas, começa nos anos 1960, ao apresentar, com minúcia exclusiva e detalhamento cuidadoso os dois cowboys que serão protagonistas do filme, Ennis Del Mar e Jack Twist (Heath Ledger e Jake Gyllenhaal, ambos de um brilhantismo interpretativo à toda prova).
E aí já tem-se a primeira manobra notável de sua premissa: Os personagens principais deste romance homossexual são também figuras emblemáticas de um gênero cuja postura e atitude é sempre relacionada à uma arraigada masculinidade tradicional: O western.
Ennis e Jack empregam-se para trabalhar como pastores de ovelhas durante uma temporada na montanha de Brokeback, para juntar dinheiro cada um movido por suas próprias razões.
Durante o longo período em que têm tão somente a companhia um do outro, os dois homens acostumados e criados num ambiente de rústica masculinidade apaixonam-se, contra tudo aquilo que lhes foi ensinado. E o tempo que Ang Lee dispõe para relatar o nascimento dessa ligação afetiva é uma das muitas escolhas brilhantes que passam despercebidas do expectador: Tão certeira, centrada e incisiva é sua direção e o tratamento com o qual aborda o roteiro que corremos o risco de achar que este grande trabalho foi feito com facilidade.
Ao voltarem da montanha, e de volta cada um para suas próprias vidas (Jack é peão de rodeio; Ennis, um pobre criador de gado) eles casam-se e têm filhos, sem jamais se esquecerem. Durante as décadas que virão, os dois buscarão momentos fugazes juntos na montanha Brokeback, único lugar onde podem expressar seu amor.
Tudo neste filme tematicamente ousado evita a panfletagem, ou o escândalo. Sereno, Ang Lee reveste o filme com uma percepção apurada de que todos os seres têm uma equivalente necessidade em querer ser feliz, e sobre inúmeros aspectos, esse é o norte para o qual apontam as motivações de seus personagens e de sua própria história. O preconceito, quando existe, é registrado como algo irrisório que pouco, no final das contas, importará.

Como em todos os seus magistrais trabalhos, Ang Lee, aqui, também volta seu olhar para aqueles que mais lhe interessam: Os personagens cuja inadequação para com as normas vigentes serve de empecilho para que se tornem aquilo que desejam ser, e em sua grandeza, por vezes, se resignam à miserável condição do drama humano.

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