Projeto da diretora francesa Coralie Fargeat imediatamente antes de seu aclamado “A Substância”, este “Vingança” traz os elementos gráficos que tanto parecem fascinar a realizadora (ao mesmo tempo que estabelecem de pronto sua forte identidade visual) e ainda se irmana a um obscuro subgênero popularizado durante o exploitation dos anos 1970, o Rape & Revenge, que rendeu clássicos malditos como “A Vingança de Jennifer” e “Aniversário Macabro”.
Por meio dos planos tão característicos e
personalíssimos de Fargeat, acompanhamos a elíptica história de –olha só a
referência já no nome! –Jennifer (Matilda Lutz). Ela, que é amante do vistoso,
bonito e aparentemente ricaço Richard (Kevin Janssens) –só assim, pelo menos,
para ele ter a deslumbrante mansão que tem, localizada num deserto sem fim,
aonde ele leva Jennifer para um fim de semana romântico bem longe da esposa (a
qual ouvimos somente a voz através de breves telefonemas dados por Richard).
No entanto, os planos de Richard não se restringem
somente à ficar com Jennifer. Surpreendendo-a, surgem na manhã seguinte Stan e
Dimitri (Vincent Colombe e Guillaume Bouchède), dois amigos de Richard, com
quem, aparentemente, ele irá caçar. Não é à toa que a palavra ‘aparentemente’
surge bastante na sinopse de “Vingança” –ou “Revenge” –todas as informações que
são dadas ao público (QUANDO são dadas) consistem de um elemento visual, algo
que é mostrado e não dito ou mencionado. E no caminho, inúmeras informações –irrelevantes
para a diretora –ficam no caminho.
Na aparição de Stan e Dimitri, a maçã verde que
Jennifer comia é derrubada e esquecida –e a cena da maçã que, ao longo das
horas e dos dias vai se deteriorando, é uma poderosa metáfora visual daquilo
que virá: Instalados na casa de Richard, Stan e Dimitri aproveitam-se de um
momento em que ele se ausenta, e então, Stan estupra Jennifer. A cena em
questão só não atinge os picos de visceralidade e degradação das obras mais
infames do Rape & Revenge
provavelmente porque a diretora é mulher –mas, quase chega lá!
Quem já viu alguns desses filmes consegue até
adivinhar o que vem na sequência: Quando Richard retorna, ele encontra Jennifer
em estado de choque com o corrido e, em vez de consolá-la, acaba piorando ainda
mais as coisas. Diante do temor de Jennifer denunciar Stan às autoridades e de
toda as repercussões chegarem aos ouvidos de sua esposa, Richard resolve
simplesmente livrar-se de Jennifer empurrando-a de um desfiladeiro onde ela
acaba empalada em uma árvore seca (!!!).
Os três amigos, julgando-a morta, a deixam lá,
mas a jovem não morreu –com muita dificuldade (mas, com considerável auxílio do
roteiro e da direção), ela consegue sair de uma situação virtualmente
inescapável e, embora machucada mortalmente, Jennifer se recupera graças à ingestão
de um psicotrópico que havia ficado em seu bolso –algo naquele entorpecente dá
à ela um empuxo com o qual ela voltará para vingar-se de um por um dos seus
três algozes enquanto eles ainda estão despreocupadamente caçando naquele
deserto.
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