sábado, 26 de abril de 2025

Vingança


 Projeto da diretora francesa Coralie Fargeat imediatamente antes de seu aclamado “A Substância”, este “Vingança” traz os elementos gráficos que tanto parecem fascinar a realizadora (ao mesmo tempo que estabelecem de pronto sua forte identidade visual) e ainda se irmana a um obscuro subgênero popularizado durante o exploitation dos anos 1970, o Rape & Revenge, que rendeu clássicos malditos como “A Vingança de Jennifer” e “Aniversário Macabro”.

Por meio dos planos tão característicos e personalíssimos de Fargeat, acompanhamos a elíptica história de –olha só a referência já no nome! –Jennifer (Matilda Lutz). Ela, que é amante do vistoso, bonito e aparentemente ricaço Richard (Kevin Janssens) –só assim, pelo menos, para ele ter a deslumbrante mansão que tem, localizada num deserto sem fim, aonde ele leva Jennifer para um fim de semana romântico bem longe da esposa (a qual ouvimos somente a voz através de breves telefonemas dados por Richard).

No entanto, os planos de Richard não se restringem somente à ficar com Jennifer. Surpreendendo-a, surgem na manhã seguinte Stan e Dimitri (Vincent Colombe e Guillaume Bouchède), dois amigos de Richard, com quem, aparentemente, ele irá caçar. Não é à toa que a palavra ‘aparentemente’ surge bastante na sinopse de “Vingança” –ou “Revenge” –todas as informações que são dadas ao público (QUANDO são dadas) consistem de um elemento visual, algo que é mostrado e não dito ou mencionado. E no caminho, inúmeras informações –irrelevantes para a diretora –ficam no caminho.

Na aparição de Stan e Dimitri, a maçã verde que Jennifer comia é derrubada e esquecida –e a cena da maçã que, ao longo das horas e dos dias vai se deteriorando, é uma poderosa metáfora visual daquilo que virá: Instalados na casa de Richard, Stan e Dimitri aproveitam-se de um momento em que ele se ausenta, e então, Stan estupra Jennifer. A cena em questão só não atinge os picos de visceralidade e degradação das obras mais infames do Rape & Revenge provavelmente porque a diretora é mulher –mas, quase chega lá!

Quem já viu alguns desses filmes consegue até adivinhar o que vem na sequência: Quando Richard retorna, ele encontra Jennifer em estado de choque com o corrido e, em vez de consolá-la, acaba piorando ainda mais as coisas. Diante do temor de Jennifer denunciar Stan às autoridades e de toda as repercussões chegarem aos ouvidos de sua esposa, Richard resolve simplesmente livrar-se de Jennifer empurrando-a de um desfiladeiro onde ela acaba empalada em uma árvore seca (!!!).

Os três amigos, julgando-a morta, a deixam lá, mas a jovem não morreu –com muita dificuldade (mas, com considerável auxílio do roteiro e da direção), ela consegue sair de uma situação virtualmente inescapável e, embora machucada mortalmente, Jennifer se recupera graças à ingestão de um psicotrópico que havia ficado em seu bolso –algo naquele entorpecente dá à ela um empuxo com o qual ela voltará para vingar-se de um por um dos seus três algozes enquanto eles ainda estão despreocupadamente caçando naquele deserto.

O fato da trama de “Revenge” ser previsível em sua identificação com o sub-gênero que abraça só não é um empecilho por conta da extrema desenvoltura da diretora em conduzir sua história por meio de elipses requintadas e cenas muito bem construídas que contornam com elegância todo o grotesco que ela evoca –na verdade, uma característica que torna a se repetir em sua obra posterior mais famosa. Coralie Fargeat aprecia o gráfico, o bizarro e o gore, mas sabe emoldurar todos esses ingredientes indigestos num cinema cheio de estilo e refinamento.

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