Engana-se quem pensa que “Superman”, de Richard Donner, foi a primeira adaptação de histórias em quadrinhos para o cinema. Desde seus primórdios, o aproveitamento narrativo de outras mídias –sejam elas, os quadrinhos, o teatro, a literatura, ou qualquer outra –sempre foi a tônica de inspiração para a sétima arte. Alguns anos antes de “Superman”, o subgênero da blaxploitation já buscava, em uma história em quadrinhos, o material para um filme concebido dentro de seus expedientes.
Dirigido por Arthur Marks, “Friday Foster” era
um dos diversos filmes estrelados pela escultural Pam Grier que ela lançou
entre 1973 e 1975 –entre eles, “Coffy”, “Foxy Brown” e “Black Mama, White Mama”
– contudo, esta protagonista vinha com algum diferencial: Ex-modelo e fotógrafa
investigativa da Revista Glance,
Friday Foster não apenas era independente, destemida e heróica (semelhante à
outra personagem de quadrinhos, “Brenda Starr”, também ela adaptada para
cinema, mais tarde, nos anos 1980), como também incorporava características das
intrépidas personagens de Rosalind Russell e Katharine Hepburn nas décadas de
1940 e 50.
Na noite de Ano Novo, Friday recebe um
telefonema urgente de seu editor-chefe (Julius Harris). Ele quer que Friday
interrompa seus planos –de festejar na companhia da amiga Cloris (Rosalind
Miles) –para, em vez disso, estar presente no aeroporto, no momento da chegada
de um certo Blake Tarr (Thalmus Rasulala) nada menos do que o negro mais rico
dos EUA! Na ocasião, um atentado acontece: Blake Tarr é alvejado por tiros,
desferidos por homens claramente contratados para eliminá-lo –entre eles, o
personagem pouquíssimo explorado do ator Carl Weathers, pouco tempo antes de
tornar-se o Apollo Creed, em “Rocky-Um Lutador”.
Farejando uma notícia bombástica, Friday
persegue as pistas nebulosas deixadas nesse acontecimento, que se somam ao
assassinato de sua amiga Cloris (ao que parece, ela andava de namoros com um
dos atiradores e precisou ser
silenciada), às tentativas sempre frustradas do personagem de Carl
Weathers em eliminar Friday também (ainda que um desses momentos rende uma das
belíssimas cenas de nudez de Pam Grier!), e à ajuda do investigador Colt
Hawkins (Yaphet Kotto), dos poucos a oferecer uma presença de fato confiável à
Friday e ao expectador.
Vibrante em sua concepção e na diversão que
proporciona do início ao fim, “Friday Foster” não somente é uma oportunidade
para apreciar a sempre deliciosa Pam Grier, mas também de admirar o cinema de
despercebidas inovações da blaxploitation de então –embora produzidos com a
marginalidade e a limitação orçamentária típicas daquelas produções, “Friday
Foster” traz, numa obra de perfeita acessibilidade ao grande público, uma
protagonista feminina plena de independência e ambivalência sexual: São, pelos menos,
três homens que passam pelos braços da escultural morena!
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