sábado, 26 de abril de 2025

Friday Foster


 Engana-se quem pensa que “Superman”, de Richard Donner, foi a primeira adaptação de histórias em quadrinhos para o cinema. Desde seus primórdios, o aproveitamento narrativo de outras mídias –sejam elas, os quadrinhos, o teatro, a literatura, ou qualquer outra –sempre foi a tônica de inspiração para a sétima arte. Alguns anos antes de “Superman”, o subgênero da blaxploitation já buscava, em uma história em quadrinhos, o material para um filme concebido dentro de seus expedientes.

Dirigido por Arthur Marks, “Friday Foster” era um dos diversos filmes estrelados pela escultural Pam Grier que ela lançou entre 1973 e 1975 –entre eles, “Coffy”, “Foxy Brown” e “Black Mama, White Mama” – contudo, esta protagonista vinha com algum diferencial: Ex-modelo e fotógrafa investigativa da Revista Glance, Friday Foster não apenas era independente, destemida e heróica (semelhante à outra personagem de quadrinhos, “Brenda Starr”, também ela adaptada para cinema, mais tarde, nos anos 1980), como também incorporava características das intrépidas personagens de Rosalind Russell e Katharine Hepburn nas décadas de 1940 e 50.

Na noite de Ano Novo, Friday recebe um telefonema urgente de seu editor-chefe (Julius Harris). Ele quer que Friday interrompa seus planos –de festejar na companhia da amiga Cloris (Rosalind Miles) –para, em vez disso, estar presente no aeroporto, no momento da chegada de um certo Blake Tarr (Thalmus Rasulala) nada menos do que o negro mais rico dos EUA! Na ocasião, um atentado acontece: Blake Tarr é alvejado por tiros, desferidos por homens claramente contratados para eliminá-lo –entre eles, o personagem pouquíssimo explorado do ator Carl Weathers, pouco tempo antes de tornar-se o Apollo Creed, em “Rocky-Um Lutador”.

Farejando uma notícia bombástica, Friday persegue as pistas nebulosas deixadas nesse acontecimento, que se somam ao assassinato de sua amiga Cloris (ao que parece, ela andava de namoros com um dos atiradores e precisou ser  silenciada), às tentativas sempre frustradas do personagem de Carl Weathers em eliminar Friday também (ainda que um desses momentos rende uma das belíssimas cenas de nudez de Pam Grier!), e à ajuda do investigador Colt Hawkins (Yaphet Kotto), dos poucos a oferecer uma presença de fato confiável à Friday e ao expectador.

Vibrante em sua concepção e na diversão que proporciona do início ao fim, “Friday Foster” não somente é uma oportunidade para apreciar a sempre deliciosa Pam Grier, mas também de admirar o cinema de despercebidas inovações da blaxploitation de então –embora produzidos com a marginalidade e a limitação orçamentária típicas daquelas produções, “Friday Foster” traz, numa obra de perfeita acessibilidade ao grande público, uma protagonista feminina plena de independência e ambivalência sexual: São, pelos menos, três homens que passam pelos braços da escultural morena!

Isso tudo, décadas antes das protagonistas femininas brancas conseguirem fazer a mesma coisa em filmes descompromissadamente comerciais.

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