Certamente foi o fascínio indelével que a
presença de Pam Grier desperta neste filme (e em “Foxy Brown”, também) a grande
razão para Quentin Tarantino trazê-la aos holofotes, trinta anos depois, ao
lançar “Jackie Brown”.
Mas, Tarantino não chega nem perto de extrair
dessa belíssima atriz (em ambos os sentidos) tudo o que ela consegue oferecer
neste pulsante e magnífico filme de Jack Hill.
Ágil e sem firulas, é uma obra muito indicativa
do quão admiráveis eram os talentos que atuavam no movimento da “blaxploitation”
–não há um segundo de narrativa desperdiçada e o roteiro consegue encapsular
uma série de elementos que, nas mãos de alguém sem competência, correriam o risco
de soarem banais, mas aqui surgem pontuais, incisivos e vibrantes, como um
grande filme tem de ser.
É por isso que, quando o filme se inicia, tudo
já aparenta estar encaminhado, ainda que a direção de Hill não encontre
problemas em tornar tudo inteligível com poucos segundos de cena; e isso,
chama-se talento!
Vingança é a única coisa que deseja a
protagonista Coffy (interpretada por uma deliciosa Pam Grier, cujos seios
fartos volta e meia pulam para fora de seu decote), uma enfermeira dedicada à
irmã mais nova, até descobrir que esta foi viciada em drogas pela má influência
de amigos drogados e traficantes. Indignada, Coffy decide promover uma limpeza ética
entre esses elementos no melhor estilo “justiça com as próprias mãos”, e já na seqüência
inicial (brilhante, por sinal) dá cabo de um desses distribuidores. Em princípio,
Coffy beneficia-se do fato de que poucos irão suspeitar que uma enfermeira
bonita estaria eliminando bandidos, mas à medida que seus alvos passam a ser as
cabeças mais importantes do tráfico e da prostituição, Coffy começa a se expor
perigosamente.
Longe de oferecer um registro sociológico com
qualquer compromisso para com a plausibilidade, os filmes desse ciclo da blaxploitation
registravam, muitas vezes de forma indireta, os anseios do público daquela época.
Havia uma necessidade do cinema popular refletir a contracultura que se
consolidava como um fenômeno em todo o mundo, e os filmes que buscavam ignorar
isso e insistir nas tendências arcaicas dos estúdios (como o musical “Hello,
Dolly!”, por exemplo) amargavam fracasso de bilheteria; ao invés do inesperado
interesse que despertavam obras como “Sem Destino”.
A blaxploitation não deixa
de ser conseqüência desse fervilhante período, e “Coffy”, lançado em 1973,
sagrou-se como um de seus mais emblemáticos exemplares, transformando a
voluptuosa Pam Grier numa das grandes musas desse movimento.
Nenhum comentário:
Postar um comentário