quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Coffy

Certamente foi o fascínio indelével que a presença de Pam Grier desperta neste filme (e em “Foxy Brown”, também) a grande razão para Quentin Tarantino trazê-la aos holofotes, trinta anos depois, ao lançar “Jackie Brown”.
Mas, Tarantino não chega nem perto de extrair dessa belíssima atriz (em ambos os sentidos) tudo o que ela consegue oferecer neste pulsante e magnífico filme de Jack Hill.
Ágil e sem firulas, é uma obra muito indicativa do quão admiráveis eram os talentos que atuavam no movimento da “blaxploitation” –não há um segundo de narrativa desperdiçada e o roteiro consegue encapsular uma série de elementos que, nas mãos de alguém sem competência, correriam o risco de soarem banais, mas aqui surgem pontuais, incisivos e vibrantes, como um grande filme tem de ser.
É por isso que, quando o filme se inicia, tudo já aparenta estar encaminhado, ainda que a direção de Hill não encontre problemas em tornar tudo inteligível com poucos segundos de cena; e isso, chama-se talento!
Vingança é a única coisa que deseja a protagonista Coffy (interpretada por uma deliciosa Pam Grier, cujos seios fartos volta e meia pulam para fora de seu decote), uma enfermeira dedicada à irmã mais nova, até descobrir que esta foi viciada em drogas pela má influência de amigos drogados e traficantes. Indignada, Coffy decide promover uma limpeza ética entre esses elementos no melhor estilo “justiça com as próprias mãos”, e já na seqüência inicial (brilhante, por sinal) dá cabo de um desses distribuidores. Em princípio, Coffy beneficia-se do fato de que poucos irão suspeitar que uma enfermeira bonita estaria eliminando bandidos, mas à medida que seus alvos passam a ser as cabeças mais importantes do tráfico e da prostituição, Coffy começa a se expor perigosamente.
Longe de oferecer um registro sociológico com qualquer compromisso para com a plausibilidade, os filmes desse ciclo da blaxploitation registravam, muitas vezes de forma indireta, os anseios do público daquela época. Havia uma necessidade do cinema popular refletir a contracultura que se consolidava como um fenômeno em todo o mundo, e os filmes que buscavam ignorar isso e insistir nas tendências arcaicas dos estúdios (como o musical “Hello, Dolly!”, por exemplo) amargavam fracasso de bilheteria; ao invés do inesperado interesse que despertavam obras como “Sem Destino”.
A blaxploitation não deixa de ser conseqüência desse fervilhante período, e “Coffy”, lançado em 1973, sagrou-se como um de seus mais emblemáticos exemplares, transformando a voluptuosa Pam Grier numa das grandes musas desse movimento.

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