domingo, 4 de dezembro de 2016

Um Sonho de Liberdade

Este, um dos filmes fundamentais dos anos 1990, trata-se de uma das mais primorosas subversões de um filme de gênero já engendradas pelo cinema: A direção de Frank Darabont (no primeiro e melhor trabalho de sua carreira) rompe com as barreiras físicas e existenciais dos muros onde seus personagens estão confinados, e o filme transforma-se numa ode emocionada e emocionante sobre a esperança.
Darabont disse uma vez que, durante as filmagens de “Um Sonho de Liberdade”, ele assistia toda semana ao clássico de Scorsese, “Os Bons Companheiros” –e, portanto, percebe-se em seu trabalho muito da pulsante energia criativa que Scorsese dedica às suas obras.
As cenas de “Um Sonho de Liberdade” se completam, se unem e dialogam entre si com inteligência, com ímpeto emocional e técnico, tecendo um filme de raro primor.
É para os anos 1920 que essa magistral narrativa nos conduz, ao mostrar o infortúnio de Andy Dufresne (um inspiradíssimo Tim Robbins), injustamente condenado pelo assassinato da esposa e do amante. Ele é assim enviado com pena de prisão perpétua à penitenciária de Shawshank, no estado do Maine.
É nesse momento que as decisões de Darabont em torno da condução começam a revelar seu elevado grau de inspiração, e a transformar o filme em algo surpreendente, com cenas memoráveis e notáveis que se seguem simultaneamente: O longo e deslumbrante plano que começa no ônibus e circunda toda a penitenciária (imitado como forma de reverência absoluta em “A Última Fortaleza”) é só o primeiro deles.
Lá, confinado naquele mundo de paredes cinzentas, Andy conhece Red (e as palavras não bastam para elogiar este trabalho ímpar do ator Morgan Freeman), o prisioneiro que proporciona compras do mundo exterior para os detentos. Os dois iniciam uma amizade que irá perdurar pelas décadas seguintes, e sobreviverá à opressão e vilania do diretor do presídio, disposto a lucrar com os conhecimentos de Andy, e a um segredo que o próprio Andy guardará, fundamental para o desfecho.
Alvo de inusitada curiosidade do público, por parte de seu título original intrigante e de difícil pronúncia –“The Shawshank Redemption” –este magnífico trabalho, dentre os melhores dos anos 1990, encontra facilidade em gravar na memória em boa parte por conta de sua plena capacidade de suscitar uma emoção genuína no expectador, e pelo mérito, nunca superestimado, de que é uma das poucas produções que atingiram –em qualquer tempo –um nível de qualidade tão alto em todos os aspectos. 
É necessário, contudo, destacar a magistral atuação de seu formidável elenco masculino: Bob Gutton, e sua excelência pérfida como diretor do presídio; Clancy Brown, uma presença ameaçadora e imponente; o jovem Gill Bellows, saindo-se magnificamente bem num personagem que poderia representar  ponto fraco da narrativa; William Sadler, sensacional nas intervenções cômicas; e o veterano James Whitmore, responsável por um dos momentos mais comoventes.

É, entretanto, o primor inquestionável da dupla central, Robbins e Freeman, que mantêm o efeito afetivo perene e poderoso desta obra, uma das mais belas histórias de amizade do cinema.

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