Reformulação é uma palavra que vez ou outra se
fez necessárias ao longo de toda a história dos estúdios de animação da Disney.
Quando chegaram ao fim da década de 1990 –em meio
à qual experimentaram uma consagração sem precedentes –os estúdios do Mickey
Mouse se defrontaram com alguns novos problemas: A mudança dos tempos.
A Pixar começava a mostrar seu poder lançando
grandes trabalhos em computação gráfica que pareciam honrar o legado de Walt
Disney com mais propriedade do que as animações tradicionais –dessas, as únicas
realmente relevantes haviam sido “Mulan” e especialmente “Tarzan”, sendo que “Pocahontas”,
“O Corcunda de Notre Dame” e “Dinossauro” passam em brancas nuvens pelo público
e pela crítica.
E ainda teve, naquele ano, a forte concorrência
do estúdio Dreamworks que entrava na área com a estrondosa bilheteria de “Shrek”.
A Disney recorreu então aos diretores Kirk Wise
e Gary Trousdale (responsáveis não só por “O Corcunda...”, mas também por “A
Bela e A Fera”, que deu ao estúdio a primeira e inédita indicação ao Oscar de
Melhor Filme para uma animação) para que dessem esse necessário sopro de
renovação ao seu mais novo projeto: Uma aventura mais próxima das ficções científicas
de Júlio Verne do que dos contos de fada concebidos pelo estúdio.
Sem intenção de fazer muito alarde, a Disney
recorreu também a um recurso bastante cabotino –assim, como fizeram em 1994,
com “O Rei Leão”, cuja fonte de influência, a animação japonesa “Kimba-O Leão
Branco” é, até hoje, tema de discussão entre os que afirmam e os que negam o fato
de que a Disney tenha se inspirado nessa animação para criar seu clássico, o
novo projeto, “Atlantis”, também trazia semelhanças comprometedoras com uma
minissérie animada, muito mais famosa no Japão do que no resto do mundo: “Nadia-The
Secret Of The Blue Water”, lançada em 1991 e inspirada, veja só, em “20.000 Léguas
Submarinas”, de Júlio Verne...
A trama de ambas as animações é basicamente a
mesma.
Na Era Vitoriana, um tímido pesquisador aquático
deixa-se embarcar em uma aventura que o leva, dentro de um avançado submarino,
aos confins de um reino perdido nas profundezas do mar. A vida nesse reino está
comprometida, e o segredo para restaurá-la reside numa princesa de beleza exótica.
O pior para a Disney ainda é que, em comparação,
seu produto ainda é inferior em qualidade técnica ao dos japoneses: Os traços
ligeiramente destoantes de “Atlantis”, numa tentativa de inovação para se afastar
do formato conhecido de suas animações, basearam-se no designer do artista Mike
Mignola, criador das HQs do Hellboy, e dono de ângulos mais duros a agressivos,
típicos de uma ficção ciberpunk. A animação japonesa, assinada por Hideaki Anno
(e ainda por cima, beneficiada por uma trama mais ampla e abrangente) carrega a
excelência típica dos animes, com brilhante execução de aspecto cinematográfico
dos cenários, naves e até monstros –não é à toa, afinal, que um dos autores de
seus conceito visual (e roteirista) seja justamente o mestre Hayao Miyazaki.
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