quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Memórias de Uma Gueixa

Após sua meteórica consagração (quando o musical “Chicago”, sua estréia no cinema, levou o Oscar de Melhor Filme em 2002), o diretor Rob Marshall viu sua estrela subir a ponto de herdar um projeto, antes acarinhado pelo próprio Steven Spielberg (que terminou assumindo a função de produtor): A Adaptação do best-seller “Memórias de Uma Gueixa”.
Curiosamente, um dos grandes méritos deste filme, a sua trilha sonora, é justamente de um grande colaborador de Spielberg, o veterano John Williams.
Considerada uma obra literária de difícil adaptação, o livro ganhou de Marshall uma encenação certamente primorosa, cuja concepção pictória resulta impressionante (não à toa, os três Oscars conquistados –fotografia, figurino e direção de arte –dizem respeito aos seus quesitos visuais).
Mas, não são raras as vezes em que Rob Marshall parece se esquecer que todo esse requinte é uma mera moldura para aquilo que, de fato, deveria funcionar: A dramaturgia.
Conseqüentemente, sua direção escorrega em inúmeros momentos, deixando entrever uma falta de profundidade brutal no tratamento para com a história e os personagens.
Isso tudo torna até redundante o fato de que a escalação de atrizes chinesas (a protagonista Zhang Zi Yi, a maravilhosa Gong Li e a conhecida Michelle Yeoh) para papéis japoneses chegou a gerar uma tola polêmica.
Nos anos 1920, garota japonesa filha de pescadores (a sempre competente Zhang Zi Yi) é levada para a cidade grande onde deve aprender a ser uma gueixa, e dominar a arte de fascinar os homens. Sua ambição é particularmente motivada pela disputa com outra gueixa, já famosa e estabelecida (Gong Li, quase sempre roubando as cenas em que aparece), e pela paixão secreta que nutre por um aristocrata (o ótimo Ken Watanabe).
Essa condução da história soa involuntariamente fantasiosa, aparentando ser não a intenção da direção, mas uma conseqüência da incompreensão de muitas das facetas do filme.
Não somente a adaptação em si é realizada de forma rasteira (para se ter uma idéia, o personagem de Watanabe, ou seja, o interesse romântico da protagonista durante as décadas em que a trama se passa, jamais ganha sequer um nome pelo qual ser chamado, sendo sempre referido como “Presidente”...), como também –o quê é ainda mais lamentável –o filme peca pela forma superficial com que aborda aspectos do livro e da cultura japonesa, especialmente no retrato que faz das gueixas, beirando uma relação com a prostituição.
O drama se dispersa assim, em constantes lampejos de imprecisão.
Em sua imponência cinematográfica, o trabalho de Rob Marshall encontra sua força mesmo no arrojado cuidado visual que vai desde o requinte dos figurinos e cenários (o set de filmagem construído para simular a orgânica e complexa estrutura da favela onde a protagonista vive é um trabalho cenográfico de maior amplitude do que o set de “Gladiador”) até o esplêndido tratamento de cores executado pela direção de fotografia.
Um belíssimo quadro no qual o objeto retratado importa menos ao artista do que as tintas que ele empregou.

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