Após sua meteórica consagração (quando o
musical “Chicago”, sua estréia no cinema, levou o Oscar de Melhor Filme em
2002), o diretor Rob Marshall viu sua estrela subir a ponto de herdar um
projeto, antes acarinhado pelo próprio Steven Spielberg (que terminou assumindo
a função de produtor): A Adaptação do best-seller “Memórias de Uma Gueixa”.
Curiosamente, um dos grandes méritos deste
filme, a sua trilha sonora, é justamente de um grande colaborador de Spielberg,
o veterano John Williams.
Considerada uma obra literária de difícil
adaptação, o livro ganhou de Marshall uma encenação certamente primorosa, cuja
concepção pictória resulta impressionante (não à toa, os três Oscars
conquistados –fotografia, figurino e direção de arte –dizem respeito aos seus
quesitos visuais).
Mas, não são raras as vezes em que Rob Marshall
parece se esquecer que todo esse requinte é uma mera moldura para aquilo que,
de fato, deveria funcionar: A dramaturgia.
Conseqüentemente, sua direção escorrega em inúmeros
momentos, deixando entrever uma falta de profundidade brutal no tratamento para
com a história e os personagens.
Isso tudo torna até redundante o fato de que a
escalação de atrizes chinesas (a protagonista Zhang Zi Yi, a maravilhosa Gong
Li e a conhecida Michelle Yeoh) para papéis japoneses chegou a gerar uma tola
polêmica.
Nos anos 1920, garota japonesa filha de
pescadores (a sempre competente Zhang Zi Yi) é levada para a cidade grande onde
deve aprender a ser uma gueixa, e dominar a arte de fascinar os homens. Sua
ambição é particularmente motivada pela disputa com outra gueixa, já famosa e
estabelecida (Gong Li, quase sempre roubando as cenas em que aparece), e pela
paixão secreta que nutre por um aristocrata (o ótimo Ken Watanabe).
Essa condução da história soa involuntariamente
fantasiosa, aparentando ser não a intenção da direção, mas uma conseqüência da
incompreensão de muitas das facetas do filme.
Não somente a adaptação em si é realizada de
forma rasteira (para se ter uma idéia, o personagem de Watanabe, ou seja, o
interesse romântico da protagonista durante as décadas em que a trama se passa,
jamais ganha sequer um nome pelo qual ser chamado, sendo sempre referido como “Presidente”...),
como também –o quê é ainda mais lamentável –o filme peca pela forma superficial
com que aborda aspectos do livro e da cultura japonesa, especialmente no
retrato que faz das gueixas, beirando uma relação com a prostituição.
O drama se dispersa assim, em constantes
lampejos de imprecisão.
Em sua imponência cinematográfica, o trabalho
de Rob Marshall encontra sua força mesmo no arrojado cuidado visual que vai desde
o requinte dos figurinos e cenários (o set de filmagem construído para simular
a orgânica e complexa estrutura da favela onde a protagonista vive é um
trabalho cenográfico de maior amplitude do que o set de “Gladiador”) até o esplêndido
tratamento de cores executado pela direção de fotografia.
Um belíssimo quadro no qual
o objeto retratado importa menos ao artista do que as tintas que ele empregou.
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