quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Bem - Vindo À Selva

Das primeiras tentativas do hoje astro consolidado Dwayne ‘The Rock’ Johnson em tentar emplacar como herói de ação –para o qual tem um físico perfeito –este “Bem-Vindo À Selva” (não confundir com uma produção mais recente e infame estrelada por Van Damme) foi uma grata surpresa em razão da direção cheia de propriedades de Peter Berg, que mais tarde emplacaria filmes irregulares e diversos como “Hancock”, “O Reino”, “Battleship” e “O Grande Herói” –em comum, todos os seus trabalhos revelam uma vigorosa noção de ritmo.
Essa característica já era fortemente perceptível neste despretensioso filme de ação lançado em 2004, no qual The Rock (revelando mais capacidade interpretativa do que em seu trabalho anterior, o divertidamente descompromissado “Escorpião Rei”) é um mercenário cheio de manias que sonha em abrir um restaurante e, para tanto, viaja ao Brasil para lucrar em uma última missão: trazer para os EUA o filho fujão de um milionário (Seann Willian Scott, na época ainda gozando de sucesso junto ao público juvenil pelo seu Stiffler de “American Pie”).
Impertinente, o rapaz revela-se um arqueólogo apaixonado quando é enfim encontrado. Seu objetivo em terras brasileiras é achar uma valiosa peça arqueológica, mas seu plano bate de frente com os interesses das pessoas moradoras daquela região –uma síntese de Serra Pelada com a ambientação de algumas aventuras de Indiana Jones –que, oprimidas e empobrecidas, dependem do dinheiro obtido com a relíquia para melhorar de vida. Todos na verdade terão de se acertar com o vilão local (Christopher Walken, à vontade) que controla um bando de bandidos mal-encarados e praticamente manda no lugar.
Como na maioria desses filmes, o que importa aqui não é a originalidade e nem a engenhosidade com as quais a história é contada (ausentes, diga-se), mas a maneira envolvente e fluida com que tudo transcorre, tornando o filme assim exatamente aquilo que ele é: Um bom passatempo.
Basta pegar a dica na participação relâmpago (estilo piscou, perdeu) especialíssima de Arnold Schwarzenegger logo na cena inicial do filme. Ele olha para The Rock e apenas diz: Divirta-se!
Um comentário à parte requer o modo com o Brasil e os brasileiros são retratados no filme: Da forma mais caricata, exagerada e equivocada possível.
Não chega ao mesmo grau de ofensa do terror “Turistas”, mas dá uma boa idéia da maneira afetada com que os brasileiros em particular (e os sul-americanos em geral) são vistos pelos EUA, ou pelo menos pela sua indústria do entretenimento: Vivem sujos e em estado precário pelas ruas barrentas, falam com sotaque macarrônico, embora alguns personagens específicos sejam mais fluentes em inglês do que na própria língua portuguesa –a brasileira interpretada por Rosaria Dawson, por exemplo, não sabe falar a palavra “gato” (ao invés disso diz “garbo”...), mas não erra nenhuma palavra em inglês (!).
Pelo menos, uma explicação existe: A equipe até fez um reconhecimento no Brasil durante sua pré-produção, mas como foram assaltados durante sua estada aqui (!), eles decidiram filmar as cenas ambientadas no Brasil em locações no Hawaí (ou seja, no fim das contas, até fizemos por merecer).

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