segunda-feira, 19 de novembro de 2018

Brenda Starr


Realizado em 1989, a aventura “Brenda Starr” é uma adaptação de histórias em quadrinhos muito antes de adaptações de histórias em quadrinhos virarem via de regra no cinema comercial norte-americano: Até então, somente “Superman-O Filme”, de Richard Donner, havia sido realizado e ganhado maior repercussão (e mesmo ele foi, durante um bom tempo, um caso isolado de transposição bem-sucedida das HQs para o cinema), o “Batman”, de Tim Burton, ganhou as telas naquela mesma temporada.
Por essa origem incomum para a época, o filme, portanto, em sua essência e narrativa abraça por completo o inusitado de sua fonte: Os quadrinhos e o ‘mundo real’ são trabalhados num modo fantasioso e intercambiável partindo do princípio de que um dos protagonistas é Mike Randall (Tony Peck, de “Filhos da Esperança”), justamente o desenhista das histórias em quadrinhos da destemida e pouco verossímil heroína Brenda Starr, que surge nas formas generosas e deliciosas de uma estonteante Brooke Shields.
Brenda é uma repórter aventureira ao estilo dos anos 1940 e 50. Ela é a grande estrela do jornal “The Flash” cobrindo intrépidas prisões de gangsteres famosos e proporcionando um grande furo atrás do outro.
No mundo real, Mike se ressente de desenhá-la sempre sob as mesmas imposições e descarrega sua indignação justamente em sua personagem principal.
Entretanto, é Brenda quem acaba se irritando com seu desenhista e manda às favas a obrigação de permanecer nos quadrinhos em que foi desenhada. A metalinguagem proposta pela premissa mirabolante atinge seu auge quando o próprio Mike desenha a si próprio na história incluindo-se dentro do mundo de Brenda para partir atrás dela.
Não será tarefa fácil: No encalço de uma manchete exclusiva, Brenda segue a pista fornecida pelo misterioso Basil St. John –Timothy Dalton que, embora interprete um brasileiro (!), não perde um instante sequer sua fleuma britânica –que pode leva-la até um cientista maluco enfurnado nas selvas amazônicas, supostamente descobridor de um combustível experimental capaz de iniciar uma ainda vindouro Corrida Espacial. Atrás de Brenda, espumando inveja, está sua arquinimiga Libby Lips (Diana Scarwid), repórter do jornal-rival “The Globe”, e atrás de Libby, buscando chegar ao tal combustível antes dos americanos está um grupo de comunistas que representa o cúmulo do estereótipo –se bem que estamos falando de uma adaptação assumidamente caricata de quadrinhos, então...
Em determinado ponto, o filme dirigido em ritmo de comédia screwball por Robert Ellis Miller deixa um pouco de lado essa movimentação para se concentrar num triângulo amoroso composto por Brenda, Mike (que descobre a facilidade que é se apaixonar por uma garota tão absurdamente radiante) e o sisudo Basil.
Apesar de todos esses personagens e suas motivações, o que define “Brenda Starr” é o estilo colorido com o qual todo o corre-corre é registrado: Os cenários sempre estilizados e cheios de cores translúcidas, junto dos figurinos e outros elementos cenográficos, são concebidos na deliberada intenção de se afastar da realidade (e tudo isso ganha algum exotismo, quando a trama vem para terras brasileiras, cujo retrato oscila entre o afetado, o razoável e o completamente equivocado) –pode-se até argumentar que, na expressão visual que adota, “Brenda Starr” tenha inspirado outro filme bem mais reconhecido e premiado, o “Dick Tracy”, de Warren Beatty, lançado no ano seguinte.

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