Realizado em 1989, a aventura “Brenda Starr” é
uma adaptação de histórias em quadrinhos muito antes de adaptações de histórias
em quadrinhos virarem via de regra no cinema comercial norte-americano: Até
então, somente “Superman-O Filme”, de Richard Donner, havia sido realizado e
ganhado maior repercussão (e mesmo ele foi, durante um bom tempo, um caso
isolado de transposição bem-sucedida das HQs para o cinema), o “Batman”, de Tim
Burton, ganhou as telas naquela mesma temporada.
Por essa origem incomum para a época, o filme,
portanto, em sua essência e narrativa abraça por completo o inusitado de sua
fonte: Os quadrinhos e o ‘mundo real’ são trabalhados num modo fantasioso e
intercambiável partindo do princípio de que um dos protagonistas é Mike Randall
(Tony Peck, de “Filhos da Esperança”), justamente o desenhista das histórias em
quadrinhos da destemida e pouco verossímil heroína Brenda Starr, que surge nas
formas generosas e deliciosas de uma estonteante Brooke Shields.
Brenda é uma repórter aventureira ao estilo dos
anos 1940 e 50. Ela é a grande estrela do jornal “The Flash” cobrindo
intrépidas prisões de gangsteres famosos e proporcionando um grande furo atrás
do outro.
No mundo real, Mike se ressente de desenhá-la
sempre sob as mesmas imposições e descarrega sua indignação justamente em sua
personagem principal.
Entretanto, é Brenda quem acaba se irritando
com seu desenhista e manda às favas a obrigação de permanecer nos quadrinhos em
que foi desenhada. A metalinguagem proposta pela premissa mirabolante atinge
seu auge quando o próprio Mike desenha a si próprio na história incluindo-se
dentro do mundo de Brenda para partir atrás dela.
Não será tarefa fácil: No encalço de uma
manchete exclusiva, Brenda segue a pista fornecida pelo misterioso Basil St.
John –Timothy Dalton que, embora interprete um brasileiro (!), não perde um
instante sequer sua fleuma britânica –que pode leva-la até um cientista maluco
enfurnado nas selvas amazônicas, supostamente descobridor de um combustível
experimental capaz de iniciar uma ainda vindouro Corrida Espacial. Atrás de Brenda,
espumando inveja, está sua arquinimiga Libby Lips (Diana Scarwid), repórter do
jornal-rival “The Globe”, e atrás de Libby, buscando chegar ao tal combustível
antes dos americanos está um grupo de comunistas que representa o cúmulo do
estereótipo –se bem que estamos falando de uma adaptação assumidamente caricata
de quadrinhos, então...
Em determinado ponto, o filme dirigido em ritmo
de comédia screwball por Robert Ellis Miller deixa um pouco de lado essa
movimentação para se concentrar num triângulo amoroso composto por Brenda, Mike
(que descobre a facilidade que é se apaixonar por uma garota tão absurdamente
radiante) e o sisudo Basil.
Apesar de todos esses personagens e suas
motivações, o que define “Brenda Starr” é o estilo colorido com o qual todo o corre-corre
é registrado: Os cenários sempre estilizados e cheios de cores translúcidas,
junto dos figurinos e outros elementos cenográficos, são concebidos na
deliberada intenção de se afastar da realidade (e tudo isso ganha algum
exotismo, quando a trama vem para terras brasileiras, cujo retrato oscila entre
o afetado, o razoável e o completamente equivocado) –pode-se até argumentar
que, na expressão visual que adota, “Brenda Starr” tenha inspirado outro filme
bem mais reconhecido e premiado, o “Dick Tracy”, de Warren Beatty, lançado no
ano seguinte.
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