Diretor dotado de personalidade e orientação
próprias, passa longe da intenção de Kevin MacDonald (de “O Último Rei da
Escócia”), ao revisitar a lenda da Nona Legião de Roma desaparecida, reprisar o épico de
Ridley Scott, “Gladiador” –muito de sua estrutura e estilo, inclusive, foge
dessa comparação.
A Nona Legião de Roma foi uma das muitas que
fizeram incursões pelo norte inexplorado da Bretanha, quando o Império Romano
buscava arduamente estender ao máximo seus domínios. Foi, entretanto, a única
que não regressou: Diante de seu misterioso desaparecimento, o Imperador
Adriano decretou a construção de uma grande muralha que determinava os limites
do mundo conhecido –para além de suas fortificações, ficavam as terras ermas
das selvagens tribos bretãs, certamente responsáveis pelo desaparecimento de
tantos soldados.
A trama do filme de MacDonald –na única
similaridade maior com o filme de Scott –pega emprestada a história real para
dela fazer o eixo que impulsa seu enredo fictício.
Channing Tatum é, assim, Marcus Flavius Aquila,
oficial romano designado para um dos entrepostos na Muralha de Adriano e filho
do capitão da lendária Nona Legião.
Passados vinte anos do ocorrido, Marcus deseja,
acima de tudo, restaurar a honra do nome da família; desde então, as
especulações até cogitam a possibilidade de seu pai ter entregue o estandarte
da águia, o símbolo da honra de Roma, para os inimigos.
Servindo como oficial, Marcus demonstra grande
bravura, liderando suas tropas contra selvagens ofensivas dos nativos –e numa
batalha é severamente ferido.
Enviado duzentas léguas ao sul, na mansão de um
tio (Donald Sutherland), Marcus conhece o escravo Esca (o sempre ótimo Jamie
Bell) quando este demonstra nobreza incomum numa arena –tão incomum que Marcus
salva sua vida, o que deixa Esca em eterna dívida para com ele.
Quando surge um vago indício de que o
estandarte de uma águia romana (certamente o do Nona Legião), foi tomado por
uma tribo nortista de bretões, Marcus toma a decisão de seguir com Esca para
além da Muralha de Adriano, e encontra-la, a fim de restaurar em definitivo a
honra de seu pai e de sua família.
Mal sabe Marcus, porém, que sua jornada será
ainda mais dolorosa e difícil do que ele poderia imaginar: Para além daquela
fronteira, no inóspito mundo desconhecido, os conceitos de mestre e escravo que
vinculam Marcus e Esca nada significam –mais, podem encontrar circunstâncias
que até os inverterão! –e a sobrevivência de ambos, em meio à tribos cuja
hostilidade está à flor da pele, pode depender de uma lealdade que eles não
necessariamente serão capazes de manter um pelo outro.
Mais do que enfatizar a coreografia das
batalhas –embora ele até dê uma colher de chá com alguns conflitos bem
executados –o diretor MacDonald prefere se esbaldar com o suspense intenso
inerente ao fato de seus protagonistas se lançarem numa missão insana nos
confins distantes de um mundo selvagem, com o registro naturalista e autêntico
(característico de um documentarista) de uma região onde a natureza se revela
rica em texturas, humidade e perigos, e com a dinâmica fascinante entre Marcus
e Esca, na qual a tensão se faz presente pelos ressentimentos representados
pelos povos antagônicos a que eles pertencem, e pela constante mudança hierárquica
que sua atribulada jornada promove entre os dois.
Curiosamente, num acaso que costuma assombrar
algumas produções hollywoodianas, “A Legião Perdida” foi lançada no mesmo ano,
2011, que um outro filme, também ele girando em torno do mito da Nona Legião, o
bem mais modesto “Centurião”, com Michael Fassbender.
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