segunda-feira, 19 de novembro de 2018

A Legião Perdida


Diretor dotado de personalidade e orientação próprias, passa longe da intenção de Kevin MacDonald (de “O Último Rei da Escócia”), ao revisitar a lenda da Nona Legião de Roma desaparecida, reprisar o épico de Ridley Scott, “Gladiador” –muito de sua estrutura e estilo, inclusive, foge dessa comparação.
A Nona Legião de Roma foi uma das muitas que fizeram incursões pelo norte inexplorado da Bretanha, quando o Império Romano buscava arduamente estender ao máximo seus domínios. Foi, entretanto, a única que não regressou: Diante de seu misterioso desaparecimento, o Imperador Adriano decretou a construção de uma grande muralha que determinava os limites do mundo conhecido –para além de suas fortificações, ficavam as terras ermas das selvagens tribos bretãs, certamente responsáveis pelo desaparecimento de tantos soldados.
A trama do filme de MacDonald –na única similaridade maior com o filme de Scott –pega emprestada a história real para dela fazer o eixo que impulsa seu enredo fictício.
Channing Tatum é, assim, Marcus Flavius Aquila, oficial romano designado para um dos entrepostos na Muralha de Adriano e filho do capitão da lendária Nona Legião.
Passados vinte anos do ocorrido, Marcus deseja, acima de tudo, restaurar a honra do nome da família; desde então, as especulações até cogitam a possibilidade de seu pai ter entregue o estandarte da águia, o símbolo da honra de Roma, para os inimigos.
Servindo como oficial, Marcus demonstra grande bravura, liderando suas tropas contra selvagens ofensivas dos nativos –e numa batalha é severamente ferido.
Enviado duzentas léguas ao sul, na mansão de um tio (Donald Sutherland), Marcus conhece o escravo Esca (o sempre ótimo Jamie Bell) quando este demonstra nobreza incomum numa arena –tão incomum que Marcus salva sua vida, o que deixa Esca em eterna dívida para com ele.
Quando surge um vago indício de que o estandarte de uma águia romana (certamente o do Nona Legião), foi tomado por uma tribo nortista de bretões, Marcus toma a decisão de seguir com Esca para além da Muralha de Adriano, e encontra-la, a fim de restaurar em definitivo a honra de seu pai e de sua família.
Mal sabe Marcus, porém, que sua jornada será ainda mais dolorosa e difícil do que ele poderia imaginar: Para além daquela fronteira, no inóspito mundo desconhecido, os conceitos de mestre e escravo que vinculam Marcus e Esca nada significam –mais, podem encontrar circunstâncias que até os inverterão! –e a sobrevivência de ambos, em meio à tribos cuja hostilidade está à flor da pele, pode depender de uma lealdade que eles não necessariamente serão capazes de manter um pelo outro.
Mais do que enfatizar a coreografia das batalhas –embora ele até dê uma colher de chá com alguns conflitos bem executados –o diretor MacDonald prefere se esbaldar com o suspense intenso inerente ao fato de seus protagonistas se lançarem numa missão insana nos confins distantes de um mundo selvagem, com o registro naturalista e autêntico (característico de um documentarista) de uma região onde a natureza se revela rica em texturas, humidade e perigos, e com a dinâmica fascinante entre Marcus e Esca, na qual a tensão se faz presente pelos ressentimentos representados pelos povos antagônicos a que eles pertencem, e pela constante mudança hierárquica que sua atribulada jornada promove entre os dois.
Curiosamente, num acaso que costuma assombrar algumas produções hollywoodianas, “A Legião Perdida” foi lançada no mesmo ano, 2011, que um outro filme, também ele girando em torno do mito da Nona Legião, o bem mais modesto “Centurião”, com Michael Fassbender.

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