sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Boa Noite, Mamãe

A lentidão que a narrativa impõe ao filme é por vezes sua força, e em outras a sua fraqueza. Parece apropriada a postura da direção ao atribuir uma atmosfera de desconforto, criada com silêncios e planos longos, contemplativos, durante uma boa parcela de sua primeira parte. Ficamos atônitos tentando buscar as poucas pistas deixadas naquele ambiente de ar rarefeito: É uma luxuosa casa de campo e os gêmeos Elias e Lukas, de nove anos, vêem o retorno da própria mãe à sua convivência após o que parece ser uma mera cirurgia plástica.
Contudo, não apenas o rosto completamente coberto por ataduras, mas suas atitudes despertam nos dois irmãos a desconfiança de que aquela, talvez, não seja realmente sua mãe.
Se a opção pela narrativa fria cria de imediato uma densidade e um clima que determinam com objetividade o filme, essa mesma opção parece drenar-lhe alguma identificação do público que ajudaria muito o filme em sua empatia a partir da segunda metade: A ausência atroz e imposta de maiores informações, mesmo murmuradas pelos personagens como conversas corriqueiras, provoca uma desconfiança, uma curiosa suspensão de crença na qual um distanciamento se mantém sempre, e isso afeta profundamente seu resultado enquanto filme de gênero.
“Boa Noite, Mamãe” é, portanto, um filme fácil de cair nas malhas impiedosas da análise calculista e imparcial, em razão da pouca empatia que obtém do expectador (e que parece ser proposital). No que diz respeito à integridade formal ele é impecável, e seus ângulos e enquadramentos dispostos ao longo de todo o filme são um testemunho de uma busca estética sempre pensada, sempre racionalizada, nunca baseada em alguma emoção.
Mas, o medo é uma das mais primitivas emoções do ser humano, e não pode ser evocado sem que outras o sejam também: Grandes diretores desse gênero são aqueles que compreendem isso e sabem suscitar o drama humano e a empatia pelos personagens a partir de traquejos dramáticos que existem em outros gêneros.

Defender o filme dizendo que esse não era seu objetivo seria imprudência: A inusitada reviravolta final, absolutamente típica dos filmes desse gênero hoje em dia, é prova de que apesar das aparências, o filme almejava, sim, conquistar o expectador.

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