O grande problema do trabalho do diretor
francês Olivier Dahan é que seu filme demora um pouco a dizer o quê veio, e a
revelar-se uma obra satisfatória.
De seus cento e dois minutos de duração, os
primeiros quarenta testam impiedosamente a paciência do público. Logo depois
disso, porém, as engrenagens da trama visualizada e orquestrada por Dahan
começam a se encaixar e a funcionar, mostrando à que vieram.
É também quando Nicole Kidman começa a se impor
e a convencer no papel de Grace Kelly, a famosa estrela de cinema que
encantou-se pelo príncipe Rainier de Mônaco e casou-se com ele, passando a
integrar uma das famílias reais da Europa e arcando com uma série de revezes e
contratempos que, nos anos que se seguiram, esse papel cobrou dela.
Nicole Kidman, sempre uma atriz das mais
esforçadas e presentes, é uma escolha muito boa para personificar alguém tão
incrivelmente marcante no imaginário cinematográfico quanto foi Grace Kelly,
contudo, ela seria perfeita para o papel à alguns anos atrás, quando mais jovem
(mais provavelmente na época das filmagens de “De Olhos Bem Fechados”, o auge
de sua beleza). Do jeito como está (com o peso dos anos já interferindo em sua
imagem), tem-se a impressão de que foi perdida a oportunidade dela interpretar
Grace Kelly fazendo jus ao seu deslumbramento.
E deslumbramento é o que não falta ao filme,
especialmente nos breves momentos em que a espanhola Paz Veja aparece,
interpretando Maria Callas.
Magistral está, por sua vez, Frank Langella,
como Tuck, o sacerdote norte-americano que serviu de conselheiro e amigo para
Grace durante algum tempo. No papel de Rainier, Tim Roth parece um pouco
perdido, gerando ligeira apatia. Mas, apática mesmo é Parker Poysey, atriz
normalmente associada ao cinema independente que, como em muitos trabalhos que
vi, não consegue se desvencilhar de uma antipática crônica que infecta suas atuações:
A escolha de uma atriz com mais carisma e com calor humano natural faria bem à
personagem e ao filme.
A trama se debruça sobre os percalços iniciais
que Grace enfrentou antes de assumir a persona de princesa de Mônaco, enquanto
seu marido se via às voltas com um embate político que colocava o reino de
Mônaco em rota de guerra com a França de Charles De Gaule. Esses ganchos
narrativos permitem que a história flutue por conflitos diversos, desde o
esboço de uma conspiração até os dilemas acerca da possibilidade de Grace voltar
à atuar no cinema, mesmo sob o pesado título da realeza (notável a participação
de Roger Ashton Griffiths como Hitchcock, na cena em que ele oferece à Grace o
papel principal no filme “Marnie”). São facetas inúmeras que apontam a riqueza
da história com a qual Olivier Dahan trabalhou, embora seja nítido que muito do
que foi feito seja um trabalho fictício amparado nos fatos reais, valendo-se de
todos os recursos da ficção (o thriller, o drama, o filme de espionagem e o
suspense de guerra) para incrementar essa narrativa.
Dito isso, pode-se dizer que Dahan até tentou,
mas não conseguiu realizar um trabalho tão pulsante quanto o que ele entregou
em “Piaf-Um Hino Ao Amor”, embora muitas de suas qualidades como realizador
estejam lá, bem representadas em planos magníficos e filtros de câmera que dão
às imagens uma característica da Velha Hollywood à qual Grace pertenceu.
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