sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Grace de Mônaco

O grande problema do trabalho do diretor francês Olivier Dahan é que seu filme demora um pouco a dizer o quê veio, e a revelar-se uma obra satisfatória.
De seus cento e dois minutos de duração, os primeiros quarenta testam impiedosamente a paciência do público. Logo depois disso, porém, as engrenagens da trama visualizada e orquestrada por Dahan começam a se encaixar e a funcionar, mostrando à que vieram.
É também quando Nicole Kidman começa a se impor e a convencer no papel de Grace Kelly, a famosa estrela de cinema que encantou-se pelo príncipe Rainier de Mônaco e casou-se com ele, passando a integrar uma das famílias reais da Europa e arcando com uma série de revezes e contratempos que, nos anos que se seguiram, esse papel cobrou dela.
Nicole Kidman, sempre uma atriz das mais esforçadas e presentes, é uma escolha muito boa para personificar alguém tão incrivelmente marcante no imaginário cinematográfico quanto foi Grace Kelly, contudo, ela seria perfeita para o papel à alguns anos atrás, quando mais jovem (mais provavelmente na época das filmagens de “De Olhos Bem Fechados”, o auge de sua beleza). Do jeito como está (com o peso dos anos já interferindo em sua imagem), tem-se a impressão de que foi perdida a oportunidade dela interpretar Grace Kelly fazendo jus ao seu deslumbramento.
E deslumbramento é o que não falta ao filme, especialmente nos breves momentos em que a espanhola Paz Veja aparece, interpretando Maria Callas.
Magistral está, por sua vez, Frank Langella, como Tuck, o sacerdote norte-americano que serviu de conselheiro e amigo para Grace durante algum tempo. No papel de Rainier, Tim Roth parece um pouco perdido, gerando ligeira apatia. Mas, apática mesmo é Parker Poysey, atriz normalmente associada ao cinema independente que, como em muitos trabalhos que vi, não consegue se desvencilhar de uma antipática crônica que infecta suas atuações: A escolha de uma atriz com mais carisma e com calor humano natural faria bem à personagem e ao filme.
A trama se debruça sobre os percalços iniciais que Grace enfrentou antes de assumir a persona de princesa de Mônaco, enquanto seu marido se via às voltas com um embate político que colocava o reino de Mônaco em rota de guerra com a França de Charles De Gaule. Esses ganchos narrativos permitem que a história flutue por conflitos diversos, desde o esboço de uma conspiração até os dilemas acerca da possibilidade de Grace voltar à atuar no cinema, mesmo sob o pesado título da realeza (notável a participação de Roger Ashton Griffiths como Hitchcock, na cena em que ele oferece à Grace o papel principal no filme “Marnie”). São facetas inúmeras que apontam a riqueza da história com a qual Olivier Dahan trabalhou, embora seja nítido que muito do que foi feito seja um trabalho fictício amparado nos fatos reais, valendo-se de todos os recursos da ficção (o thriller, o drama, o filme de espionagem e o suspense de guerra) para incrementar essa narrativa.

Dito isso, pode-se dizer que Dahan até tentou, mas não conseguiu realizar um trabalho tão pulsante quanto o que ele entregou em “Piaf-Um Hino Ao Amor”, embora muitas de suas qualidades como realizador estejam lá, bem representadas em planos magníficos e filtros de câmera que dão às imagens uma característica da Velha Hollywood à qual Grace pertenceu.

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