O diretor Radu Mihaileanu esbanja bom humor
neste saboroso conto sobre o resgate do passado a partir dos meandros
indefiníveis e misteriosos da música (e, por que não, da arte como um todo),
neste trabalho que pode soar bastante desigual, além de infinitamente
recompensador, àquelas platéias acostumadas –e anestesiadas –à mesmice das
produções norte-americanas.
Outrora celebrado maestro, Andrei Filipov, um
cidadão russo, agora resignado ao cargo de medíocre faxineiro do teatro de
Bolshoi, por puro acaso, intercepta um pedido para a orquestra se apresentar em
Paris. Ocorre-lhe então a ideia de reencontrar todos os músicos de sua antiga
orquestra, agora párias e dissidentes que, como ele, tiveram de se adaptar a
uma nova e ingrata condição após o auge do Partido Comunista na Cortina de
Ferro. O concerto, encarado por ele como uma catarse, terá como solista a jovem
e famosa Anne Marie Jacquet (Melanie Laurent de "Bastardos
Inglórios"), moça esta cujas origens têm ligações com a orquestra que eles
compuseram no passado.
Sublime, cativante e engraçado filme europeu
que, sem abrir mão da leveza, discorre sobre as armadilhas e as conseqüências
da política, extraindo graça irresistível dos constantes improvisos do qual
lançam mão os personagens. Seu trecho final, onde o concerto enfim se sucede, é
um momento maravilhosamente cinematográfico, usado com primor em seus fins
narrativos, coroando o filme com uma sensação transcendental que alcança o
expectador.
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