segunda-feira, 15 de agosto de 2016

O Concerto

O diretor Radu Mihaileanu esbanja bom humor neste saboroso conto sobre o resgate do passado a partir dos meandros indefiníveis e misteriosos da música (e, por que não, da arte como um todo), neste trabalho que pode soar bastante desigual, além de infinitamente recompensador, àquelas platéias acostumadas –e anestesiadas –à mesmice das produções norte-americanas.
Outrora celebrado maestro, Andrei Filipov, um cidadão russo, agora resignado ao cargo de medíocre faxineiro do teatro de Bolshoi, por puro acaso, intercepta um pedido para a orquestra se apresentar em Paris. Ocorre-lhe então a ideia de reencontrar todos os músicos de sua antiga orquestra, agora párias e dissidentes que, como ele, tiveram de se adaptar a uma nova e ingrata condição após o auge do Partido Comunista na Cortina de Ferro. O concerto, encarado por ele como uma catarse, terá como solista a jovem e famosa Anne Marie Jacquet (Melanie Laurent de "Bastardos Inglórios"), moça esta cujas origens têm ligações com a orquestra que eles compuseram no passado.
Sublime, cativante e engraçado filme europeu que, sem abrir mão da leveza, discorre sobre as armadilhas e as conseqüências da política, extraindo graça irresistível dos constantes improvisos do qual lançam mão os personagens. Seu trecho final, onde o concerto enfim se sucede, é um momento maravilhosamente cinematográfico, usado com primor em seus fins narrativos, coroando o filme com uma sensação transcendental que alcança o expectador.

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