sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Audazes e Malditos

Ao longo de sua prolífica e impetuosa carreira, pesou sobre os ombros do grande diretor John Ford a alcunha de racista, muito provavelmente devido ao registro raivoso com que ele narrava os atritos do homem branco contra os índios, em faroestes que se tornaram clássicos, sobretudo no seminal “Rastros de Ódio”.
Curiosamente, vem a ser o próprio Ford o realizador daquele que é o primeiro filme de faroeste produzido por um grande estúdio a trazer um negro como protagonista.
Embora seja ventilado o nome de Jeffrey Hunter (e ele até mesmo chega a aparecer por primeiro nos créditos iniciais), é sem sombra de dúvidas o soldado vivido por Woody Strode o verdadeiro personagem principal de “Audazes e Malditos”.
Na trama, Jeffrey Hunter interpreta o jovem oficial que se manifesta para defender um soldado de um regimento de afro-descendentes, o Sargento  Rutledge (Strode, interpretando aquele que é, por sinal, o personagem-título do filme) acusado de dois crimes terríveis que, ao longo do julgamento, são melhor elucidados quando a história envolvendo-os é contada por meio de flashbacks, num recurso de ilustra bem a enorme modernidade da direção de Ford.
Quase desconhecido em meio aos exemplares mais que notáveis da vasta e magnífica carreira de John Ford, “Audazes e Malditos” se mantém como uma obra altiva, ainda que de observações singelas, mas cheias de significado e de autenticidade, sobretudo quanto ao ser humano notável e de ampla compreensão moral que era seu lendário realizador.

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