Ao longo de sua prolífica e impetuosa carreira,
pesou sobre os ombros do grande diretor John Ford a alcunha de racista, muito
provavelmente devido ao registro raivoso com que ele narrava os atritos do
homem branco contra os índios, em faroestes que se tornaram clássicos,
sobretudo no seminal “Rastros de Ódio”.
Curiosamente, vem a ser o próprio Ford o
realizador daquele que é o primeiro filme de faroeste produzido por um grande
estúdio a trazer um negro como protagonista.
Embora seja ventilado o nome de Jeffrey Hunter
(e ele até mesmo chega a aparecer por primeiro nos créditos iniciais), é sem
sombra de dúvidas o soldado vivido por Woody Strode o verdadeiro personagem
principal de “Audazes e Malditos”.
Na trama, Jeffrey Hunter interpreta o jovem
oficial que se manifesta para defender um soldado de um regimento de
afro-descendentes, o Sargento Rutledge
(Strode, interpretando aquele que é, por sinal, o personagem-título do filme)
acusado de dois crimes terríveis que, ao longo do julgamento, são melhor
elucidados quando a história envolvendo-os é contada por meio de flashbacks,
num recurso de ilustra bem a enorme modernidade da direção de Ford.
Quase desconhecido em meio aos exemplares mais
que notáveis da vasta e magnífica carreira de John Ford, “Audazes e Malditos”
se mantém como uma obra altiva, ainda que de observações singelas, mas cheias
de significado e de autenticidade, sobretudo quanto ao ser humano notável e de
ampla compreensão moral que era seu lendário realizador.
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