quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Charada

O melhor filme de Hitchcock, sem Hitchcock. Explica-se: Era até bastante óbvio que, com seus sucessos simultâneos de público e crítica (e, não raro, clássicos forjados um após o outro), Hollywood tentaria fazer sua própria simulação de Alfred Hitchcock; uma produção de estúdios que obedecesse todas as características funcionais e comerciais do mestre do suspense.
E os produtores não pouparam despesas: Chamaram um elenco estelar (Audrey Hepburn, Cary Grant, James Coburn, Walter Mathau, George Kennedy), contrataram Henry Mancini (de “A Pantera Cor-de-Rosa”) para a trilha sonora, Charles Lang para a direção de fotografia, Hubert Givenchy para os figurinos e, na direção, Stanley Donen, que co-dirigiu “Cantando Na Chuva”.
O resultado não poderia ser muito decepcionante mesmo.
Embora traga uma dosagem abundante de seu bom humor, Donen busca emular (certamente sob instrução dos produtores) todas as características de Hitchcock; nem sempre ele é feliz em harmonizá-las, é verdade, mas seu trabalho é fluido e saboroso.
A socialite norte-americana Reggie (Hepburn, substituindo com brilho e beleza as loiras platinadas que protagonizavam as obras de Hitchcock) vai para Paris a fim de divorciar-se do marido, Charles, com quem não tem –ou nunca teve –muita sintonia.
Ao chegar ao seu apartamento, porém, o lugar está vazio e desocupado e seu cônjuge, ela descobre, está morto.
Aparentemente, ele havia ficado com uma expressiva quantidade em dinheiro, que é de muito interesse de seus sócios, ou melhor cúmplices, também aparentes responsáveis por sua morte. A única pessoa em quem ela –também aparentemente –pode confiar é Peter Joshua (Cary Grant, divertidíssimo), um recém-conhecido, muito solícito e suspeito, que parece estar sempre nos lugares certos e nas horas certas.
O roteiro é mirabolante e cheio de agradáveis reviravoltas, embora lhe falte a psicologia que sempre havia, em maior ou menor intensidade, nas obras do mestre do suspense. Como todo grande filme, Charada” foi refilmado, em 2006, por Jonathan Demme (de “O Silêncio dos Inocentes”), resultando num filme bem inferior, “O Segredo de Charlie”.
Ao que parece, a simulação de Hitchcock, feita por Donen, tinha também ela, uma magia que outros não foram capazes de capturar.

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