O melhor filme de Hitchcock, sem Hitchcock.
Explica-se: Era até bastante óbvio que, com seus sucessos simultâneos de
público e crítica (e, não raro, clássicos forjados um após o outro), Hollywood
tentaria fazer sua própria simulação de Alfred Hitchcock; uma produção de
estúdios que obedecesse todas as características funcionais e comerciais do
mestre do suspense.
E os produtores não pouparam despesas: Chamaram
um elenco estelar (Audrey Hepburn, Cary Grant, James Coburn, Walter Mathau, George Kennedy),
contrataram Henry Mancini (de “A Pantera Cor-de-Rosa”) para a trilha sonora,
Charles Lang para a direção de fotografia, Hubert Givenchy para os figurinos e,
na direção, Stanley Donen, que co-dirigiu “Cantando Na Chuva”.
O resultado não poderia ser muito decepcionante
mesmo.
Embora traga uma dosagem abundante de seu bom
humor, Donen busca emular (certamente sob instrução dos produtores) todas as
características de Hitchcock; nem sempre ele é feliz em harmonizá-las, é
verdade, mas seu trabalho é fluido e saboroso.
A socialite norte-americana Reggie (Hepburn,
substituindo com brilho e beleza as loiras platinadas que protagonizavam as
obras de Hitchcock) vai para Paris a fim de divorciar-se do marido, Charles,
com quem não tem –ou nunca teve –muita sintonia.
Ao chegar ao seu apartamento, porém, o lugar
está vazio e desocupado e seu cônjuge, ela descobre, está morto.
Aparentemente,
ele havia ficado com uma expressiva quantidade em dinheiro, que é de muito
interesse de seus sócios, ou melhor cúmplices, também aparentes responsáveis
por sua morte. A única pessoa em quem ela –também aparentemente –pode confiar é
Peter Joshua (Cary Grant, divertidíssimo), um recém-conhecido, muito solícito e
suspeito, que parece estar sempre nos lugares certos e nas horas certas.
O roteiro
é mirabolante e cheio de agradáveis reviravoltas, embora lhe falte a psicologia
que sempre havia, em maior ou menor intensidade, nas obras do mestre do
suspense. Como todo grande filme, Charada” foi refilmado, em 2006, por Jonathan
Demme (de “O Silêncio dos Inocentes”), resultando num filme bem inferior, “O
Segredo de Charlie”.
Ao que parece, a simulação
de Hitchcock, feita por Donen, tinha também ela, uma magia que outros não foram
capazes de capturar.
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