segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Magnólia

Em uma determinada cena deste filme, todos os personagens, nos mais diversos lugares, param o que estão fazendo para (veja só) cantar! Um momento inebriante.
Ponto para o diretor Paul Thomas Anderson que criou um filme repleto de cenas mágicas, inusitadas e inesperadas que, ao longo de suas três horas de duração tem como tema... a rotina.
“Magnólia” é uma ciranda de dramas humanos que se revezam perante o olhar do expectador, com suas qualidades intrigantes muitas vezes ressaltadas pela observação essencialmente cinematográfica de seu diretor. Todas elas transcorrem na cidade de Los Angeles, e todas têm como elemento intrínseco uma espécie de absurdo que parece perseguir os percalços dos personagens, seja em sua comédia ou em sua tragédia.
Como não poderia deixar de ser, seu elenco é espetacular. Há o grande Jason Robards, como um milionário em seus momentos finais –e durante os quais se dá conta das verdadeiras importâncias de sua vida –acompanhado e auxiliado por seu solícito enfermeiro (Phillip Seymour Hoffman). Ele se esforça para tentar realizar um desejo de seu paciente: Reencontrar o filho com quem não mais tem contato (personagem, no caso, de Tom Cruise, que surge aqui com uma interpretação fantástica). Paralelamente, a atual esposa do milionário (Julianne Moore), que devido à diferença de idade fica claro que casou-se por dinheiro, dá-se conta, só então, que ama de fato seu marido.
A medida que “Magnólia” avança outras tramas vão surgindo e se ramificando: John C. Reilly aparece como um policial solitário lidando com sua insegurança; William H. Macy interpreta um homem assolado por uma poderosa crise de identidade; e muitos outros mais.
Anderson usa cada um desses expedientes para a construção de cenas memoráveis, mas, perto do final, ele entrega uma sequência que desperta, até hoje, a dúvida de seus fãs: Afinal, o quê ele quis dizer com aquela surreal chuva de sapos?!
Uma metáfora da ausência de sentido de muitas das trajetórias humanas? Um comentário em tom de sarcasmo da banalidade que nos cerca? Um atrevimento autoral feito com o único propósito de surpreender? Um lampejo de realismo mágico a brotar em um filme pretensamente realista?

O diretor, evasivo, nunca chegou a dar uma resposta e, talvez, a beleza dessa cena (e de todo o filme) esteja em não sabê-lo.

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