sábado, 3 de setembro de 2016

Um Quarto Em Roma

O amor que conduz os personagens à relação carnal, ao sexo. Que lhes dá o empuxo para buscar concretizar um relacionamento, e que define esse relacionamento sobre diversos prismas. O amor como uma ideologia que justifica a quase tudo, ou ao menos, muitos dos sacrifícios e atos discutíveis (como mentir) que haverão de ser feitos.
É esse amor que serve de tema incondicional à Julio Medem, cujas obras bastante esparsas costumam discorrer e flutuar em torno do comportamento humano diante desse fator a torná-los imprevisíveis.
Meio que inspirado por isso, o próprio Medem reveste suas obras de imprevisibilidade, dando-lhes às vezes um clima até fantasioso nos mais inesperados momentos.
É com essa sua habitual característica que ele segue a jornada íntima de duas jovens turistas, uma espanhola, a outra ucraniana, completas desconhecidas, que se encontram em Roma, na Itália, e iniciam um flerte intenso e extenso surgido a partir do momento em que percebem a irreprimível química entre si.
Sozinhas num quarto de hotel, sem roupas e com a noite inteira pela frente, elas compartilham histórias que se revelam, ora mentira, ora verdade, e vão descobrindo os mistérios uma da outra, enquanto transam.
Medem (diretor também do magnífico “Os Amantes do Círculo Polar”) realiza um verdadeiro exercício de fetichismo ao colocar duas belas atrizes nuas em cena, durante praticamente o filme todo. Na realidade, ele está abalizado por um certo sub-gênero nascido nas últimas décadas no qual a premissa se desenvolve a partir do encontro em dois personagem envolvidos no clima romântico do momento, e que por vezes, se atem à aridez de cenário, como “Antes do Amanhecer”, ou o brasileiro “Entre Lençóis”.
Virtuoso, Medem não deixa que a restrição do espaço no qual a história se passa se torne um empecilho enfadonho e usa e abusa de artifícios de câmera para incrementar a narrativa, soando algumas vezes indulgente demais.

O amor, esse tema presente em quase todos os seus filmes, encontrou expressões mais austeras e precisas em obras com “Lucia e O Sexo”, embora este novo trabalho conserve elementos de sobra para torná-lo recomendável.

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