Havia algo de errado com a Disney no final da
década de 1980.
Vinda de uma sucessão de animações pouco
memoráveis que remontavam desde a década passada, o estúdio de animação de
Mickey Mouse enfrentava críticas que especulavam sua decadência toda a vez que
lançava obras como “Oliver e Seus Companheiros” ou “O Caldeirão Mágico”.
Trabalhos que, se vinham embalados por sua costumeira perfeição técnica no
quesito de animação, tinham também uma deplorável superficialidade, passando
longe da excelência artística ostentada pelos clássicos do período áureo dos
estúdios.
O quê muita gente não sabia é que era
exatamente esse legado que pesava sobre os ombros daqueles animadores de então
(eles sentiam-se inferiores diante da eterna comparação com realizadores de
obras seminais como “Branca de Neve e Os Sete Anões” ou “Fantasia”!), oprimindo
sua liberdade artística e sua criatividade.
Em algum momento, surgiu assim uma necessidade
de reformulação, e para isso foi chamado um executivo absolutamente avesso ao
sistema das animações: Jeffrey Katzenberg.
Irrequieto, impaciente e muitas vezes
implacável, sua política era simples: Obter resultados financeiros imediatos.
E para tanto foi necessário um projeto que
paradoxalmente unia a recuperação de elementos tradicionais da Disney com uma
insuspeita inovação temática.
O projeto durante o qual essa mudança se deu
era uma adaptação de um conto de Hans Christian Andersen, justamente um dos
poucos ainda não trabalhados pela Disney, mas que guardava elementos que
faltavam nas animações do estúdio, pelo menos, nos últimos trinta anos: “A
Pequena Sereia”.
Em termos básicos, a trama mostrava a
trajetória de Ariel (provavelmente a mais sensacional personagem da Disney dos
anos 1980), filha mais nova de Tritão, o rei do Mar que, apaixonada por um
príncipe humano, contraria os apelos de seu pai e, na ânsia de buscar seu amor
e conhecer o mundo da superfície que tanto a fascina, faz um pacto com a
ardilosa Bruxa do Mar para assim adquirir a forma terrena de mulher.
Mas tem que abdicar de sua linda voz –e o modo
que os animadores encontraram para dar plena expressividade à personagem sem
que ela necessite de diálogos é um dos muitos achados maravilhosos deste
trabalho.
Além de um esmero maior na concepção de sua
trama (e do detalhe saudosista de ser, enfim, uma nova animação que tratava de
certa forma de uma princesa), o filme beneficiou-se de um momento de iluminação
da parte dos autores de sua trilha sonora, Howard Ashman e Alan Menken, que
conceberam as canções mais inspiradas que o estúdio teve em décadas (sendo a
contagiante “Under The Sea”, vencedora do Oscar, o grande destaque).
De alguma forma, a Disney havia recuperado sua
magia.
Reza a lenda que Katzenberg, mesmo ciente da
qualidade estratosférica da obra que tinham em mãos, não apostava no sucesso
comercial. Segundo ele, “A Pequena Sereia” era um filme “para meninas” e, por
isso, dificilmente teria uma bilheteria como a do anterior “Oliver e Seus
Companheiros”, um filme “de garotos”.
Ele não poderia estar mais errado: O sucesso de
público e critica de “A Pequena Sereia” foi de tal maneira acachapante que ele
revitalizou a qualidade claudicante das animações do estúdio.
“A Pequena Sereia” foi o primeiro e essencial
passo de uma caminhada que conduziu os estúdios de Walt Disney à uma década de
1990 na qual entregariam alguns de seus mais aclamados trabalhos.
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