Este é um filme que deve muito de seu fascínio
ao brilho natural da atriz Diane Lane: É sua expressividade, e sua capacidade
sublime e vívida de migrar de um humor para outro, que conduz as cenas. Outra
atriz em seu lugar poderia não dar conta dessa tarefa e acabaria fragilizando a
narrativa do filme.
Diane, para muitos, foi uma revelação tardia:
Reconhecimento (e até mesmo status de estrela) ela só foi conquistar mesmo em
2002, quando já contava com quase quarenta anos (embora nunca tivesse deixado
de ser linda), após sua indicação ao Oscar de Melhor Atriz por “Infidelidade”,
embora ela tenha tido uma carreira intensa e prolífica desde a década de 1980
–inclusive com diversas participações em filmes de Francis Ford Coppola.
Ainda bem que vários filmes se seguiram nos
quais ela pôde mostrar sua desenvoltura, sua graça e beleza. “Sob O Sol da
Toscana” é um exemplo de projeto que se encaixa com perfeição nessa descrição,
e de quebra rende um prazeroso passatempo.
Quando começamos a acompanhar a trajetória da
balzaquiana Frances (Diane, que foi indicada ao Globo de Ouro de Melhor Atriz
em Comédia ou Musical), uma escritora cujo processo recente de divórcio parece
mergulhar sua vida numa espiral de desilusão e pessimismo, e que por isso
encara uma viagem à Itália, a impressão que a condução leve, afetiva, colorida
e alto-astral nos passa é a de que estamos assistindo à uma comédia romântica,
tal é a semelhança de ritmo e tom. É com relativo prazer que percebemos na
narrativa um ímpeto de adorável subversão quando surgem empecilhos pontuais
para cada personagem que se manifesta como “o príncipe encantado da vez” para
Frances. Os homens que aparecem tão solícitos, perfeitos e vistosos acabam
revelando-se escorregadios, paternalistas e/ou desinteressados (e notamos que
isso só pode ser mesmo um filme quando tais desventuras amorosas ocorrem com um
deslumbre de mulher como Diane Lane!).
A questão é que o roteiro não quer ser uma mera
comédia romântica: Assim, a trama leva Frances a encantar-se com uma vila na
Toscana, da qual torna-se proprietária e passa a habitar, e a conviver com as
ocasionais confusões de tentar reformar a propriedade. Novas personagens
aparecem para lhe fazer companhia trazendo seus próprios problemas e
complicações, como o jovem polonês (um dos carpinteiros) enamorado da filha do
vizinho de Frances; ou a amiga (Sandra Oh) lésbica, grávida e abandonada pela
companheira que surge para morar com ela.
Pouco a pouco, Frances vai se tornando o eixo
de uma espécie de família.
Todos esses fatores parecem minimizar a busca
por um par romântico, e enfatizar a necessidade de uma auto-descoberta.
Uma outra personagem também aparece para
sugerir algumas intenções da direção: A sonhadora e exuberante Sylvia (Lindsay
Duncan, numa interpretação completamente distinta da crítica teatral sisuda que
ela viveu em “Birdman” alguns anos depois), que cita o tempo todo Federico
Fellini –as menções mais constantes são, sobretudo, “A Doce Vida” e “Noites de
Cabíria”, com a qual de fato a personagem de Frances tem uma certa
similaridade.
Contudo, em sua singela graciosidade, o filme,
no que diz respeito às referências a Fellini, fica só no terreno das menções
mesmo, preferindo uma narrativa bem menos ácida: Pode-se dizer que em sua
estrutura, ele está mais para “O Candelabro Italiano” do que para “A Doce Vida”
–embora haja uma momento em que até a cena da Fontana Di Trevi é recriada.
Sendo assim, o que permite a “Sob O Sol da
Toscana” estar mais próximo de ser uma experiência memorável é sua sensacional
atriz principal, Diane Lane, dando enfoque inspirado a sua divertida personagem,
e valorizando todo o filme no processo.
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