O inferno, como diz o ditado, está cheio de
boas intenções. É desse princípio moral que parte este conto sensacional vindo
da Coréia do Sul e, para variar, carregado de inventividade e do mesmo primor
que o diretor Chow Wook Park já havia esbanjado na celebrada “Trilogia da
Vingança”.
Somos introduzidos à história, de início, como
um mistério de aspectos insolúveis: Num trecho da fronteira entre a Coréia do
Norte e a Coréia do Sul tão estreito quanto uma rua, um incidente envolvendo
quatro soldados (três deles do norte e um do sul) que terminou com dois deles
mortos, torna ainda mais delicada a tênue trégua entre os dois lados.
A fim de demonstrar transparência na apuração
dos fatos, a CSNN (Congressão Supervisora das Nações Neutras) envia uma jovem
oficial de descendência coreana para investigar o acontecimento, auxiliada por
um oficial suíço. A elucidação de tudo o que de fato aconteceu naquela noite
fatídica, entretanto, ganha contornos desconcertantes a medida que a inesperada
verdade começa a vir à tona.
Essa extraordinária fusão de destreza narrativa
com a ironia e a sensibilidade aguda na manipulação dos meandros políticos faz
parecer uma mescla desigual de Irmãos Coen com Costa-Gravas.
Chow Wook Park parece questionar o porquê dos
homens (não apenas os coreanos) criarem pretextos para se dividirem e se
hostilizarem, quando poderiam ser amigos, irmãos, e com esse ímpeto, ele
entrega uma profunda demonstração de humanismo, feita de maneira eletrizante,
como só os arrojados cineastas sul-coreanos sabem fazer.
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