quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Zona de Risco

O inferno, como diz o ditado, está cheio de boas intenções. É desse princípio moral que parte este conto sensacional vindo da Coréia do Sul e, para variar, carregado de inventividade e do mesmo primor que o diretor Chow Wook Park já havia esbanjado na celebrada “Trilogia da Vingança”.
Somos introduzidos à história, de início, como um mistério de aspectos insolúveis: Num trecho da fronteira entre a Coréia do Norte e a Coréia do Sul tão estreito quanto uma rua, um incidente envolvendo quatro soldados (três deles do norte e um do sul) que terminou com dois deles mortos, torna ainda mais delicada a tênue trégua entre os dois lados.
A fim de demonstrar transparência na apuração dos fatos, a CSNN (Congressão Supervisora das Nações Neutras) envia uma jovem oficial de descendência coreana para investigar o acontecimento, auxiliada por um oficial suíço. A elucidação de tudo o que de fato aconteceu naquela noite fatídica, entretanto, ganha contornos desconcertantes a medida que a inesperada verdade começa a vir à tona.
Essa extraordinária fusão de destreza narrativa com a ironia e a sensibilidade aguda na manipulação dos meandros políticos faz parecer uma mescla desigual de Irmãos Coen com Costa-Gravas.

Chow Wook Park parece questionar o porquê dos homens (não apenas os coreanos) criarem pretextos para se dividirem e se hostilizarem, quando poderiam ser amigos, irmãos, e com esse ímpeto, ele entrega uma profunda demonstração de humanismo, feita de maneira eletrizante, como só os arrojados cineastas sul-coreanos sabem fazer.

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