quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Trágica Obsessão

Na época bastante relacionado com “Um Corpo Que Cai” devido à similaridade extrema e confessa das duas tramas –e todos sabem que Hitchcock era, no início da carreira de De Palma, a referência-mor –este grande trabalho, também roteirizado com engenhosa noção de ritmo e lógica por Paul Schrader, é hoje também muito comparado com a magnífica obra sul-coreana “Old Boy”, devido à uma revelação surpreendente perto do seu final.
Mas, não vamos nos precipitar.
A história acompanha um milionário (Cliff Robertson) que se vê numa situação perplexa: Sua esposa e filha são seqüestradas.
Cedendo às bravatas dos policiais, ele concorda em armar uma arriscada cilada para os seqüestradores, que termina de forma trágica com as duas reféns mortas numa explosão.
Aproximadamente, dez anos se passam e ele encontra uma mulher misteriosamente idêntica à sua esposa (Geneviéve Bujold, que depois faria “Gêmeos-Mórbida Semelhança” com David Cronenberg), numa viagem à Itália –e aí começam a surgir as características que aproximam este filme da obra-prima de Hitchcock; assim como “Vestida Para Matar” se aproximava de “Psicose” e “Dublê de Corpo”, de “Janela Indiscreta”.
Engana-se, contudo, quem achar que trata-se de mera cópia: Assim como em seus outros trabalhos, Brian De Palma repensa o viés psicológico e, sobretudo, a roupagem enquanto cinema atribuída à obra, e refaz os passos de Hitchcock, talvez a partir de uma trama muita parecida, mas que envereda por caminhos novos, seja ele do referencial cinematográfico (há, aqui, um clima barroco que remete também ao extraordinário “Inverno de Sangue em Veneza”), seja na concepção técnica (duas cenas onde a câmera realiza um espetacular giro de 360 graus surpreendem por não serem mencionadas em nenhuma antologia de cinema!) ou na pura e genuína intenção de realizar um grande filme a partir do mais admirável dos materiais.

O desfecho guarda, de fato, uma surpresa estarrecedora, tão mais estarrecedora pelo tabu que ela aborda (tão mais contundente para a época em que foi feito), o que só demonstra e ressalta a imensa coragem de seu realizador.

Nenhum comentário:

Postar um comentário