Uma das correntes de cinema a experimentar mais
altos e baixos em todo o mundo certamente foi o cinema italiano; uma potência
cinematográfica nas décadas de 1950 e 60, a Itália viu muito de sua abundância
criativa de escassear na década seguinte, quando uma série de novas tendências
de mercado (como o exploitation) nivelou por baixo sua produção
cinematográfica.
Foi uma convergência de inúmeros fatores
desfavoráveis: Além de seus artesãos proeminentes serem contratados
continuamente por Hollywood (e para lá transferidos), os anos 1970 vinham com
uma carga de subversão –herança da contracultura dos anos 1960 –que se refletia
no teor mais pesado dos filmes daquele período (fenômeno que ocorreu, diga-se,
no mundo todo).
Esses fatores somados (a baixa qualidade da mão
de obra do mercado, o despontar da exploitation e a característica mais mundana
dos realizadores de então) propiciaram o surgimento de um sub-gênero chamado
“ciclo canibal”, que não era tão diferente da pornochanchada aqui no Brasil.
Basicamente eram trabalhos que se prestavam ao
baixo orçamento de praxe (ambientação na selva, sem a necessidade de maiores
cuidados) e seguiam uma mesma fórmula: Personagens perdidos por alguma razão
qualquer se deparam com uma tribo canibal, e são trucidados, com requintes de
crueldade, um a um, e não raro, em circunstâncias que até se repetiam em um e
outro filme (!).
O registro, para fins comerciais, era sensacionalista:
Muito sangue, muita violência, em níveis quase intoleráveis, e ocasionalmente,
nudez gratuita.
O maior, vamos dizer, ‘clássico’ desse nicho é
o terrivelmente perturbador e infame “Holocausto Canibal”, de Ruggero Deodato,
mas muitos filmes foram realizados a toque de caixa por caras como Umberto
Lenzi, Alain Deruelle, Joe D’ Amato, Sergio Martino e até Jess Franco (embora
este repudiasse o sub-gênero canibal...).
É, por sinal, Sergio Martino o diretor de “A
Montanha dos Canibais” que consta em meio ao sub-gênero, como uma de suas obras
mais competentes e desiguais –embora, no que se refere ao “ciclo canibal” isso
não queira dizer muito...
O elenco, com astros de certo porte (como
Ursula Andress e Stacy Keach), também é um fator curioso –todos, verdade seja
dita, só estão no projeto porque suas carreiras atravessavam um período de
vacas magras, relegando-os a trabalhos mais obscuros.
Mas, Ursula Andress ainda era uma mulher
belíssima, e isso é parte do fetiche em colocá-la como uma esposa empenhada em
encontrar o paradeiro do marido, desaparecido em uma expedição por florestas
inexploradas (e o mistério de seu desaparecimento é algo que, desde já,
qualquer um deduz a resposta).
Quando os aguardados canibais surgem (o
objetivo compulsório do gênero, afinal) vem junto com eles todas as cenas
escabrosas de morte e mutilação que os fãs ansiavam, em contraponto à elas (que
embora beirem o escatológico, possuem relativa finesse em comparação ao que
esse gênero produziu de mais execrável) há também as cenas de nudez de Ursula
Andress –em especial, àquela na qual ela tem o corpo todo lambuzado de uma
espécie de óleo por duas belas índias –de estranho e até perturbador contraste
com toda a nojeira gore que se derrama na tela ao longo da última hora de duração
Resumindo: Eis um exemplar daquele ciclo
absolutamente estóico na forma como assume sua vulgaridade.
Esse subgênero foi uma das características do Cinema de Terror na virada dos anos 70 pros 80. Mas ficou por ali mesmo.
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