quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Flores Partidas

Ao receber uma carta anônima de uma suposta ex-namorada do passado afirmando que ele tem um filho que nunca conheceu, homem de meia-idade, solteiro e bem de vida empreende, um pouco a contra gosto, uma busca, indo atrás das mulheres que amou, e que seriam então a possíveis mães de um filho seu. Alguns desses relacionamentos terminaram deixando uma sensação de estranhamento, outros acabaram de forma catastrófica.
Há um curioso quiproquó ao analisarmos este filme colocando-o lado a lado da obra-prima de Sofia Coppola, “Encontros e Desencontros”, que trazia o papel da vida de Bill Murray: O estilo alternativo de Sofia como diretora, feito de minúcias visuais e sonoras, amparado em sutilezas imperceptíveis aos blockbusters bebe, e muito, de uma fonte da qual o tarimbado Jim Jamursch é uma das principais vertentes.
É claro que ele mesmo tem suas próprias influências, e algumas remetem ao cinema francês, mas penso que esse assunto possa ser abordado na resenha de algum outro filme seu.
O próprio Jamursch, vindo de um intervalo considerável de tempo sem filmar, ao realizar este novo trabalho, apropriou-se do astro do filme de Sofia (Murray) permitindo que se estabelecesse entre as duas obras uma similaridade ainda mais nítida e flagrante. Jamursch exerce um cinema independente vago, disperso, sem maiores preocupações em corresponder às expectativas do público ou acelerar a lentidão da narrativa. E ele deixa perceptível uma certa desilusão de sua parte, refletido em um niilismo perene que pontua seu filme (embora haja aqueles que podem argumentar que ele estava lá na maioria de seus trabalhos), em contraponto à ânsia de observar e descobrir o cerne de todo o vazio que pulsa dos trabalhos de Sofia.

A jornada movida pelo personagem de Murray é pontuada pelos ecos de uma vida pregressa que se desconfigura a medida que as mulheres com quem viveu (Sharon Stone, Frances Conroy, Jéssica Lange, Julie Delpy, uma irreconhecível Tilda Swinton) aparecem para dar novo prisma à sua percepção daquilo que se passou (e por vezes, sua percepção de si mesmo), todavia a busca por respostas sempre se revela traiçoeira: Essas mulheres entram, elas próprias, em contradição. Como também parece entrar em contradição, por vezes, o próprio Jamursch, ao concluir a circularidade frustrante que representa ser o próprio fluxo da vida. Nessa plena capacidade de contagiar o expectador com esse desânimo existencial, sua trama ganha interesse graças a Bill Murray,sempre um ator notável, ainda que repetindo em muitos aspectos o personagem que havia interpretado no magistral "Encontros e Desencontros".

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