Ao receber uma carta anônima de uma suposta
ex-namorada do passado afirmando que ele tem um filho que nunca conheceu, homem
de meia-idade, solteiro e bem de vida empreende, um pouco a contra gosto, uma
busca, indo atrás das mulheres que amou, e que seriam então a possíveis mães de
um filho seu. Alguns desses relacionamentos terminaram deixando uma sensação de
estranhamento, outros acabaram de forma catastrófica.
Há um curioso quiproquó ao analisarmos este
filme colocando-o lado a lado da obra-prima de Sofia Coppola, “Encontros e
Desencontros”, que trazia o papel da vida de Bill Murray: O estilo alternativo
de Sofia como diretora, feito de minúcias visuais e sonoras, amparado em
sutilezas imperceptíveis aos blockbusters bebe, e muito, de uma fonte da qual o
tarimbado Jim Jamursch é uma das principais vertentes.
É claro que ele mesmo tem suas próprias influências,
e algumas remetem ao cinema francês, mas penso que esse assunto possa ser
abordado na resenha de algum outro filme seu.
O próprio Jamursch, vindo de um intervalo
considerável de tempo sem filmar, ao realizar este novo trabalho, apropriou-se
do astro do filme de Sofia (Murray) permitindo que se estabelecesse entre as
duas obras uma similaridade ainda mais nítida e flagrante. Jamursch exerce um
cinema independente vago, disperso, sem maiores preocupações em corresponder às
expectativas do público ou acelerar a lentidão da narrativa. E ele deixa
perceptível uma certa desilusão de sua parte, refletido em um niilismo perene
que pontua seu filme (embora haja aqueles que podem argumentar que ele estava
lá na maioria de seus trabalhos), em contraponto à ânsia de observar e
descobrir o cerne de todo o vazio que pulsa dos trabalhos de Sofia.
A jornada movida pelo personagem de Murray é
pontuada pelos ecos de uma vida pregressa que se desconfigura a medida que as
mulheres com quem viveu (Sharon Stone, Frances Conroy, Jéssica Lange, Julie
Delpy, uma irreconhecível Tilda Swinton) aparecem para dar novo prisma à sua
percepção daquilo que se passou (e por vezes, sua percepção de si mesmo),
todavia a busca por respostas sempre se revela traiçoeira: Essas mulheres
entram, elas próprias, em contradição. Como também parece entrar em
contradição, por vezes, o próprio Jamursch, ao concluir a circularidade
frustrante que representa ser o próprio fluxo da vida. Nessa plena capacidade
de contagiar o expectador com esse desânimo existencial, sua trama ganha interesse
graças a Bill Murray,sempre um ator notável, ainda que repetindo em muitos
aspectos o personagem que havia interpretado no magistral "Encontros e
Desencontros".
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