Neste curioso e pouco usual drama romântico, o
competente diretor russo Andrei Konchalovsky, de inusitada e variada
filmografia (realizou “Expresso Para O Inferno”, com roteiro de Akira Kurosawa,
“Gente Diferente” e até mesmo o descerebrado policial de ação “Tango &
Cash”, além de uma recente versão de “O Quebra-Nozes”), lança um olhar sobre as
armadilhas da idealização.
É, para tanto, providencial a presença de uma
linda e ainda jovem Nastassja Kinski, a personificar muito desse conceito.
Curiosamente, embora no auge de sua beleza, a
personagem de Nastassja, Maria, não é páreo para a idealização que o noivo faz
dela: Ao regressar do campo de batalha na Segunda Guerra Mundial, ele (John
Savage, de “O Franco Atirador”) se vê incapaz de consumar seu amor com ela,
refletindo certos aspectos de seu trauma de guerra no bloqueio romântico que
surge devido a todo o tempo que passou idealizando-a nas trincheiras, alheio ao
fato de todos os homens ao redor (seu pai incluso, interpretado por Robert
Mitchum) também desejá-la.
Ele conclui que precisa de um tempo para rever
o modo como enxerga Maria, talvez de um pedestal de perfeição, no qual é
incapaz de vê-la ao seu lado.
Assim sendo, ele parte. E o filme segue, mais
ou menos o seu raciocínio, levando Maria, realmente, a sofrer revezes que a
humanizam, o quê inclui engravidar de outro homem (Keith Carradine).
A narrativa envolvente e lúdica de Konchalovsky
é eficiente no objetivo de esconder o maior tempo possível do expectador mais
sensato a imensa besteira que o protagonista está fazendo –quem em sã
consciência abandonaria uma maravilhosa e apaixonada Nastassja Kinski? É,
portanto, o fetichismo ímpar de sua atriz principal o grande atrativo e,
paradoxalmente o grande ponto de contradição e questionamento do filme.
Mas, “Os Amores de Maria” é o tipo de trabalho
que habita uma região nebulosa da memória cinéfila, aquela que não faz maiores
concessões em relação à sua relevância factual, mas que guarda com imenso
apreço a lembrança dessa trama estranha, surreal a ponto de ser irreal, que se
beneficia, contudo, de ter a pairar em suas cenas, essa jovem que ostenta uma
das mais inebriantes belezas surgidas nos anos 1970, 80.
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