segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Doutor Estranho

A Marvel Studios executa seu projeto de criar narrativas individuais compartilhadas em um mesmo universo com tanta habilidade que corremos o sério risco de achar que é uma tarefa fácil.
Não é: Basta observar o quanto sua rival, a DC, tem penado com suas tentativas muitas vezes frustradas de trilhar o mesmo caminho.
“Doutor Estranho”, o décimo quarto longa-metragem do estúdio é mais uma confirmação disso, ostentando a mesma qualidade que, de modo geral, predomina nos trabalhos anteriores e, por assim dizer, o mesmo estilo também.
Isso porque, ao contrário de seus concorrentes, que preferem um registro mais sombrio, a Marvel pontua suas narrativas com senso de humor, uma das várias maneiras de humanizar seus personagens e suas tramas. E a humanização, a aproximação através de pequenos detalhes conceituais é uma característica que definia os personagens da Marvel quando ela estava restrita apenas aos quadrinhos, concebidos em sua maioria, por Stan Lee.
E, se havia um projeto de dava margem para um tom mais sombrio, certamente era “Doutor Estranho”, ou melhor, Stephen Strange, o renomado cirurgião que é o protagonista do filme e que encontra em Benedict Cumberbath um intérprete inquestionável –e é outra grande sacada da Marvel a escolha extraordinariamente feliz em encontrar os atores ideais para seus personagens.
A jornada de Strange rumo ao herói que vai se tornar é, dentre todas, a mais semelhante à de Tony Stark (Robert Downey Jr.), o Homem de Ferro. Pois, Strange é rico, vaidoso, arrogante e, provavelmente por isso mesmo, plenamente consciente do grande talento que tem.
Talento este que ele perde ao envolver-se num acidente de carro que he danifica seriamente as mãos, as mesmas que antes tinham sensibilidade para executar as mais complexas cirurgias. À procura de um milagre que restaure sua vida ao que era antes, Strange vai até Kathmandu, no Nepal, onde conhece o Barão Mordo (Chiwetel Ejiofor) e a Anciã (Tilda Swinton, absolutamente fantástica), personagens que o apresentam a uma ideologia completamente diferente da que ele então conhecia como médico.
Aos poucos, Strange descobre alguns dos mistérios do mundo que a magia permite ocultar, e junto com eles, uma série de perigos também, como Kaecilius (Madds Mikkelsen, espetacular) um aprendiz renegado da Anciã que deseja quebrar o lacre entre este mundo e a chamada Dimensão Negra, para ofertar a Terra ao demônio chamado Dormammu.
O grande diferencial que “Doutor Estranho” em relação ao que a Marvel fez até agora está certamente em seu visual –este é, no que diz respeito às imagens, o mais arrojado e impressionante filme que a Marvel já concebeu, o quê é dizer muito de um estúdio que já entregou trabalhos como “Os Vingadores”, “Guardiões da Galáxia” e “Capitão América-Guerra Civil”.
É impossível não lembrar de “A Origem”, de Christopher Nolan, ao testemunhar com assombro, os confrontos em outros planos de realidade, onde as cidades ora se curvam, ora se dobram, ou até viram do avesso, criando um efeito caleidoscópico que ainda vai muito além das cenas já impressionantes do filme de Nolan.
Essa concepção psicodélica acaba sendo muito condizente com os traços de Steve Ditko, primeiro ilustrador do personagem.
A cada novo trabalho, a Marvel Studios se dá, mais e mais, o luxo de fazer cinema de gente grande, e só podemos supor com espanto, para onde isso tudo irá nos levar!

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