A Marvel Studios executa seu projeto de criar
narrativas individuais compartilhadas em um mesmo universo com tanta habilidade
que corremos o sério risco de achar que é uma tarefa fácil.
Não é: Basta observar o quanto sua rival, a DC,
tem penado com suas tentativas muitas vezes frustradas de trilhar o mesmo
caminho.
“Doutor Estranho”, o décimo quarto
longa-metragem do estúdio é mais uma confirmação disso, ostentando a mesma
qualidade que, de modo geral, predomina nos trabalhos anteriores e, por assim
dizer, o mesmo estilo também.
Isso porque, ao contrário de seus concorrentes,
que preferem um registro mais sombrio, a Marvel pontua suas narrativas com
senso de humor, uma das várias maneiras de humanizar seus personagens e suas
tramas. E a humanização, a aproximação através de pequenos detalhes conceituais
é uma característica que definia os personagens da Marvel quando ela estava
restrita apenas aos quadrinhos, concebidos em sua maioria, por Stan Lee.
E, se havia um projeto de dava margem para um
tom mais sombrio, certamente era “Doutor Estranho”, ou melhor, Stephen Strange,
o renomado cirurgião que é o protagonista do filme e que encontra em Benedict
Cumberbath um intérprete inquestionável –e é outra grande sacada da Marvel a
escolha extraordinariamente feliz em encontrar os atores ideais para seus
personagens.
A jornada de Strange rumo ao herói que vai se
tornar é, dentre todas, a mais semelhante à de Tony Stark (Robert Downey Jr.),
o Homem de Ferro. Pois, Strange é rico, vaidoso, arrogante e, provavelmente por
isso mesmo, plenamente consciente do grande talento que tem.
Talento este que ele perde ao envolver-se num
acidente de carro que he danifica seriamente as mãos, as mesmas que antes
tinham sensibilidade para executar as mais complexas cirurgias. À procura de um
milagre que restaure sua vida ao que era antes, Strange vai até Kathmandu, no
Nepal, onde conhece o Barão Mordo (Chiwetel Ejiofor) e a Anciã (Tilda Swinton,
absolutamente fantástica), personagens que o apresentam a uma ideologia completamente
diferente da que ele então conhecia como médico.
Aos poucos, Strange descobre alguns dos
mistérios do mundo que a magia permite ocultar, e junto com eles, uma série de
perigos também, como Kaecilius (Madds Mikkelsen, espetacular) um aprendiz
renegado da Anciã que deseja quebrar o lacre entre este mundo e a chamada
Dimensão Negra, para ofertar a Terra ao demônio chamado Dormammu.
O grande diferencial que “Doutor Estranho” em
relação ao que a Marvel fez até agora está certamente em seu visual –este é, no
que diz respeito às imagens, o mais arrojado e impressionante filme que a
Marvel já concebeu, o quê é dizer muito de um estúdio que já entregou trabalhos
como “Os Vingadores”, “Guardiões da Galáxia” e “Capitão América-Guerra Civil”.
É impossível não lembrar de “A Origem”, de
Christopher Nolan, ao testemunhar com assombro, os confrontos em outros planos
de realidade, onde as cidades ora se curvam, ora se dobram, ou até viram do
avesso, criando um efeito caleidoscópico que ainda vai muito além das cenas já impressionantes
do filme de Nolan.
Essa concepção psicodélica acaba sendo muito
condizente com os traços de Steve Ditko, primeiro ilustrador do personagem.
A cada novo trabalho, a
Marvel Studios se dá, mais e mais, o luxo de fazer cinema de gente grande, e só
podemos supor com espanto, para onde isso tudo irá nos levar!
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