segunda-feira, 7 de novembro de 2016

O Búfalo da Noite

É provável que somente aqueles que tiveram contato com o romance a partir do qual seu roteiro foi adaptado possam de fato entender em sua totalidade a proposta que a dramaturgia embutida nesta trama profundamente deprimente e sombria se presta a elaborar.
Questões acerca da real função narrativa (e possivelmente metafórica) do mencionado ‘búfalo da noite’, ou das repercussões envolvendo a esquizofrenia ficam completamente nebulosas diante da indecisão hesitante da narrativa, cuja timidez parece levar o filme a acompanhar seus personagens com restrição, distanciamento e ressalva.
Na trama, Manuel (o astro latino Diego Luna), jovem argentino suburbano vive um complicado romance com a outrora namorada (Liz Gallardo) de seu melhor amigo (Gabriel González), que se suicidou em decorrência de surtos de esquizofrenia. A relação entre eles é marcada por depressão, sentimento de culpa e sexo. Enquanto isso, flashbacks vão revelando sua tumultuada amizade com o rapaz suicida, além de estranhas similaridades que podem estar levando-o a trilhar o mesmo trágico destino.
Este drama, nos moldes do cinema autoral, comiserativo e por vezes dilacerante realizado pelo mesmo roteirista Guillermo Arriaga e sua outrora “alma gêmea cinematográfica”, o diretor Alejandro Gonzales Iñarritu (que juntos fizeram “Amores Brutos”, “21 Gramas” e “Babel”), carece da qualidade dos títulos mais importantes que eles realizaram. Isso certamente se deve à ausência de Iñarritu neste projeto, com quem Arriaga veio a se desentender. O novo diretor Jorge Hernandez Aldana não dispõe de toda a compreensão narrativa de Iñarritu, fazendo com que os erros em sua direção fiquem evidentes (talvez, tenha sido a frustração para com este projeto que tenha levado Arriaga, em seu trabalho seguinte, a assumir, ele próprio, a direção, o quê resultado no bastante superior “Vidas Que Se Cruzam”).
Dispersa, a trama é pouco evidenciada o que gera inúmeras sequências vazias de significado, dando margem a um sem-fim de cenas de nudez e sexo que não parecem ter maiores conexões com a história, e ainda comprometem um bocado a empatia com seu protagonista: Mesmo com seu melhor amigo tendo cometido suicídio, o cara além de transar com a antiga namorada do infeliz, transa também com a irmã dele (!).
As atrizes, ao menos, são lindas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário