sábado, 26 de novembro de 2016

O Último Combate

Absolutamente desprovida de qualquer realismo (a não ser, talvez, o que se chamaria de “realismo fantástico”), esta desconhecida, porém, vibrante e criativa, obra de Luc Besson é um respiro de originalidade com sua natureza desigual, até insólita, diante de tantas produções formulaicas que sempre abarrotaram o circuito comercial (algumas delas produzidas ou dirigidas pelo próprio Besson).
Num mundo pós-apocalíptico registrado em imagens em preto & branco, o diretor Luc Besson (aqui, em sua estréia, plenamente consciente das escolhas que o tornariam uma referência naquele novo movimento estético do cinema francês que ele iniciava no início dos anos 1980) acompanha a trajetória de seu herói –um protagonista anônimo, quase mudo, em meio aos personagens que também não falam para se comunicar –que foge numa espécie de aeroplano de uma gangue de saqueadores, e em seguida torna-se aliado do silencioso guardião de um antigo hospital em frangalhos, que cuida com zelo e cautela do que parece ser a última mulher encontrada nos escombros do mundo que se acabou.
Apesar do visual preto & branco e da ausência de diálogos, não é cinema mudo a verdadeira referência de Besson: São, na realidade, as histórias em quadrinhos européias, sobretudo as conceituais, como “O Desvio” de Moebius, ou os primeiros e mais radicais esboços de Tanino Liberatore para “Ranxerox” (que muitos teorizam ter sido uma espécie de influência velada para Besson realizar seu magnífico “O Profissional”, em 1994).
Prova da concepção anárquica proveniente daquela fase são as cenas de indelével absurdo que se materializam neste filme, ele próprio, de uma premissa no mínimo surreal: Uma chuva de peixes, sem qualquer explicação; o comportamento errático, gestual e carregado de pantomima de seus personagens (mesmo os supostamente maus e mais sombrios) que remete à uma estética de desenho animado; e, provavelmente, o inusitado e desconcertante final, quando Besson escolhe com aparente critério deliberado, um momento banal, até mesmo corriqueiro, e certamente inconcluso para encerrar a trama e arremessar o público para fora da história, deixando uma sensação de estranhamento e perplexidade.
Ele usou desse recurso outras vezes no desfecho dos seus filmes realizados logo naquele período: Também abandonam o expectador em momentos assim os igualmente arrojados e pulsantes “Nikita” e “Subway”.
Nenhum, entretanto, consegue ser tão singular quanto este daqui.

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