Nada como uma comédia excelente para passar a
noite, e este trabalho dos diretores Jemaine Clement e Taika Waititi (também
eles membros do elenco como veremos mais à frente) é dos melhores dos últimos
tempos.
Por meio do mesmo formato narrativo usado em
reallity shows como “Keep Up The Kardashians” –a câmera mostra o dia a dia dos
protagonistas acrescido de seus ocasionais comentários pessoais –a história
acompanha, desta vez, quatro vampiros que vivem na mesma casa: o sensível e
diletante Viago (Taika Waititi), o desleixado Deacon (Jonny Brugh), o rude e
hilário Vladislav (Jemaine Clement) e o arcaico e assustador Petyr (Ben
Fransham).
À eles, mais tarde, se junta um vampiro
recém-transformado: O sem noção e ocasionalmente mala sem alça Nick (Cori
Gonzalez-Macuer).
Todos são, com salutar e engraçada evidência,
ainda que sem qualquer necessidade de cópia, exemplares das versões mais
famosas de vampiros retratados no cinema –Viago, por exemplo, na pele do
co-diretor Waititi faz lembrar Lestat (de “Entrevista Com O Vampiro”), com seus
modos anacrônicos de dândi e seus figurinos cheios de babados; Deacon seria a
versão mais conhecida de Drácula (aquele interpretado por Bela Lugosi), embora
agregue elementos de muitos outros, como os vampiros mundanos de “Quando Chega
A Escuridão”; Vladislav, interpretado pelo outro co-diretor, Clement, é (ou
melhor, tenta ser) a versão exuberante e indomável concebida por Francis Ford
Coppola em “Drácula de Bram Stoker”; Petyr é inconfundivelmente baseado no
“Nosferatu”, de Murnau –e sua inadequação com a atualidade e mesmo com seus
próprios pares é um dos divertimentos do filme –por fim, Nick (como se pode
perceber na chacota constante que ele sofre dos outros) é inspirado nos
vampiros mais modernos de “Crepúsculo” –e, na qualidade de expectador dos
tempos de hoje, ele chega a citar o filme em um dado momento!
Divertido e saboroso como não se via num
“mockumentary” (o chamado ‘falso documentário’) desde “This Is Spinal Tape”, o
filme registra em pequenos e hilários detalhes a condição ridícula dos vampiros
nos tempos atuais: Sair à noite caçar significa, para eles, experimentar
inesperadas frustrações já que precisam ser convidados para entrar em qualquer
lugar –e ninguém os convida! Entre outras coisas são mostradas também as
tentativas desajeitadas de Viago em manter o chão de casa limpo a despeito da
sangueira que seus ataques provocam, a nostalgia de Vladislav a relembrar os
tempos em que empalava pessoas e tinha muito mais poder (sua explicação do
porque procuram por sangue de virgens é hilária!), os aborrecimentos
enfrentados por eles –cujo reflexo nunca aparece em espelho nenhum –quando
tentam arrumar-se para sair, e não têm idéia da aparência com a qual estão (!)
e a conflituosa tentativa de conviver uns com os outros –tudo isso intercalado
por depoimentos de rachar o bico de tanto rir –desnecessário dizer que o elenco
como um todo possui um timing cômico impecável!
Essa demonstração
irrestrita de perícia não passou despercebida da Marvel Studios que já tratou
de contratar o diretor Taika Waititi para conduzir seu novo “Thor-Ragnarok”. A
julgar pelo resultado brilhante que ele consegue obter aqui, o deus do trovão da
Marvel deve ganhar uma produção que irá alçar seus filmes ao mesmo alto nível
das produções protagonizadas pelo Capitão América.
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