sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

12 Macacos

Realizado a partir de um média-metragem alternativo francês, "La Jetté", concebido por Chris Marker, o diretor oriundo do Monty Python, Terry Gillian, monta um pesadelo estranho, perturbador, lúdico e pessimista sobre o futuro e suas percepções amparado, em grande parte, pela contemplação da notável narrativa daquele trabalho singular.
A premissa ambienta-se num futuro distópico, onde um vírus misterioso dizimou boa parte da população terrestre deixando enclausurados em abrigos subterrâneos todo o restante.
Interpretado por Bruce Willis, Cole, o protagonista é um sobrevivente cujas lembranças do tempo anterior ao cataclisma da civilização remetem a um violento e nebuloso instante de quando ainda era criança, transcorrido num aeroporto –onde parece ter visto um homem alvejado a tiros. Tudo o mais se dissipa em fragmentos que terminam no mundo opressor e inóspito em que vive: Uma Nova York assolada por um vírus letal, na qual os escombros são recordações amargas de uma humanidade sem medo que um dia existiu.
É mais pela oportunidade de uma reconciliação pessoal com essas memórias, do que por altruísmo para com sua própria raça que Cole se torna voluntário para uma radical experiência: voltar no tempo e impedir o fatídico acontecimento que deflagrou o desmoronamento da civilização.
Nesse futuro, eles têm vagas informações de que tudo pode ter sido desencadeado por um certo grupo revolucionário, os "12 Macacos". Sendo assim, ao aportar no tempo atual, é atrás dessa pista que Cole vai, o quê termina-o conduzindo até um hospício onde ele cruza o caminho de uma médica (Madeleine Stowe) e de um dos internos (um aloprado Brad Pitt).
É nesse momento em que as inserções típicas de Gillian começam de fato a atuar no filme, livrando-o da sombra poderosa do trabalho que está adaptando –o registro algo interessado e apaixonado da loucura e a forma como essa característica humana inerente aos personagens infecta a própria narrativa bagunçando os acontecimentos e flertando com o mais negro dos humores.

Na atuação admirável de Willis, Cole é uma alma torturada, alguém desejoso da chance de exorcizar uma perturbadora visão de infância, e no filme de Chris Marker, assim como na obra de Terry Gillian, o protagonista encontra um cruel desfecho para sua obsessão na cena final, de primorosa conseqüência circular para toda a trama. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário