Os filmes concebidos pelo comediante Seth Rogen
compartilham uma espécie de escatologia que os define –vide o ótimo “É O Fim!”
e o petulante “A Entrevista”.
Esta animação não foge à regra sendo –pelo fato
de tratar-se justamente de uma animação –um de seus trabalhos mais curiosos.
Como numa versão distorcida, corrosiva e
pecaminosa de “Toy Story”, os itens (em geral, os alimentícios) das prateleiras
de supermercado possuem vida. Toda manhã entoam um canto onde ovacionam os
humanos consumidores (que consideram deuses) e rogam para serem escolhidos e
irem para o carrinho de compras, julgando que, ao saírem pela porta do
supermercado irão para o paraíso –alheios ao fato (conhecido de antemão pelo público)
que serão devorados!
Um das salsichas de um pacote plastificado, o
protagonista Frank cultiva um romance com uma bisnaga chamada Brenda (!), e
esperam a chance de se unirem –e o roteiro não tem o menor pudor de esconder a
analogia sexual que imediatamente se percebe.
(Perto do final, inclusive, há uma cena de
orgia que já está entre as mais absurdas e inacreditáveis de toda a história da
animação, honrando o legado de transgressão de Ralph Baskin e seu “O Gato Fritz”).
Toda a sua premissa, aliás, é um terreno fértil
para a alegoria e a animação se esbalda com as possibilidades de uma classificação
indicativa alta discorrendo sobre segregação, ideologias extremistas,
metodologia da crença e diversidade com utilização intensa de palavrões e
impropérios (a versão dublada ficou a cargo dos comediantes do “Porta dos
Fundos” que fizeram questão de não atenuar em absolutamente nada a tradução).
Até o final, o roteirista Seth Rogen (que se
encarrega também da voz do protagonista) irá valer-se dessa verve ácida para
demolir um sem-fim de convenções, e levará a trama a conseqüências inacreditáveis,
chegando ao cúmulo de uma espantosa e hilária quebra da quarta parede.
São muito saudáveis essas
ocasionais expressões de questionamento como a deste filme.
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